"Chegou a hora do samba do Paraná...", anuncia o refrão. Sinal de que foram abertos os trabalhos de mais uma roda do Samba do Compositor Paranaense (SCP).
As reuniões do grupo sempre começam pedindo bênção com este prefixo que encerra a ideia da coisa toda: criar um espaço para mostrar a produção autoral da rapaziada que faz samba em Curitiba.
A novidade da última segunda-feira foi que a roda mudou de lugar. Deixou o bonito, mas longínquo e meio fantasmagórico, Canal da Música e se transferiu para o vivo e central Teatro Universitário de Curitiba TUC. Mais precisamente, na sala Ivo Rodrigues, na Galeria Júlio Moreira, artéria aorta do centro histórico e malária da capital. Bela mudança promovida pela Fundação Cultural de Curitiba.
O TUC é aconchegante, do tamanho certo e tem o astral ideal.
Para quem não conhece o projeto, criado há cinco anos, o SCP consiste numa roda de samba aberta ao público em que compositores mostram temas inéditos prontamente decorados e cantados pelos circunstantes. Funciona na mesma base da tradição ancestral de apresentar sambas novos nos terreiros das escolas cariocas.
Para participar, o compositor interessado deve levar 20 cópias impressas do seu samba para que os músicos da harmonia possam passar o som a partir das 19h30. A audição começa às 20h30, até inegociáveis 22 horas.
Com as letras devidamente distribuídas, o compositor defende a sua cria duas vezes, acompanhado só por um cavaco ao longe, dando o tempo para que os demais incorporem letra e melodia.
Na terceira repetição, a percussão entra rasgando. A copa e a cozinha da roda são compostas em grande parte pelos integrantes do Sindicatis, outro projeto formidável de samba sobre o qual pretendo falar aqui em breve.
O SCP é democrático. Não é exigida prova de títulos. Ou seja, qualquer um do povo pode chegar de mansinho e apresentar o seu samba. E também dá para ficar de butuca, na moita, só assistindo.
Pode tudo, samba canção, sincopado, bossa nova, samba de terreiro, de breque e de partido alto. E quem de nós não cometeu seus sambinhas por aí ou tem um refrão à espera de uma segunda parte? Pois há um lugar ideal para cantar e formalizar parcerias.
Na última segunda-feira deu tempo de ouvir oito músicas inéditas. Umas melhores que as outras, mas nenhum samba de pé quebrado. E pelo menos um deles, "Saga dos Ancestrais", de Ivo Queiróz, vou te contar: é só dar um tapa aqui e ali, pedir para o Rildo Hora arranjar e colocar no próximo disco do Martinho da Vila.
Quem nunca viu, precisa ir lá ver.
Demanda reprimida
Chega a notícia de que a maior parte do pacote de livros do escritor Jamil Snege postos à venda pela Livraria Arte e Letra no mês passado foi vendida.
Suas duas obras mais notórias, o romance Como Eu Se Fiz por Si Mesmo e a coletânea de contos Como Tornar-se Invisível em Curitiba esgotaram em poucos dias.
Parece-me a prova de que há uma espécie de demanda reprimida no mercado editorial pela alta literatura local feita de poucos e bons livros de um punhado de escritores.
De certa forma, e numa escala maior, isto já tinha se demonstrado no ano passado, quando o Toda Poesia de Paulo Leminski alcançou o primeiro lugar na lista dos mais vendidos aqui e no Brasil inteiro.
Olhando este cenário, me pergunto se o momento não seria propício para o relançamento ou uma reapresentação do Ultralyrics, livro que reúne muito da obra do poeta Marcos Prado, selecionada e organizada por Felipe Hirsch. Foi lançado pela Travessa dos Editores há uns dez anos e causou relativo impacto.
Muito menor, arrisco-me a dizer, do que teria se fosse lançado hoje. Numa rápida olhada no site da Travessa dos Editores vejo que é possível comprá-lo por R$ 28. Acho que é tempo de reler e apresentar o Marcos Prado para quem não o conhece.
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