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Assista a vídeos e escute o som da Machete Bomb no blog Sobretudo: www.gazetadopovo.com.br/blogs/sobretudo
Antes de Marcelo D2 sair em busca da batida perfeita, misturando samba com rap e com rock, Curitiba já vivia uma "mélange rítmica" própria. Quando surgia o mangue beat da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, nos anos 1990, por aqui o Beijo AA Força já fazia música ligeira para os países baixos misturando sambas e marchinhas com o punk rock. Em 1996, surgia o antológico disco Sem Suingue, primeira aparição fonográfica do Maxixe Machine no disco do BAAF. Seguindo essa certa tradição curitibana, surge a banda Machete Bomb e seu "cavaquinho metaleiro".
A ideia de distorcer o som do cavaquinho e fazê-lo soar como um instrumento de rock já vem sendo experimentada pelo músico Otávio Madureira, o Madu, há mais de uma década. Ele passou a se interessar por música brasileira só depois de ouvir Sepultura e seus discos Chaos AD e Roots, e os pernambucanos do mangue beat. O próprio Madu explica o processo: "Eu falava tanto em Mundo Livre que uma namorada me deu um cavaquinho (algo que eu não teria comprado de jeito nenhum). Quando peguei o cavaco, a primeira coisa que eu vi foi que eu não iria aprender a tocar aquilo direito... daí lembrei do Tom Morello, do Rage Against the Machine (outra banda que me influenciou a vida inteira). Já que eu jamais iria conseguir aprender a tocar cavaquinho como os paulistas, ou os cariocas, que vivem o samba no seu dia a dia, decidi transformar o cavaco em outro instrumento e tocar como um bom curitibano metaleiro... como o Morello fez da guitarra dele uma pick-up de DJ, imitando os elementos do rap. E assim, no fim de 2001, com minha banda, inseri o cavaquinho no meu amplificador de guitarra, usando uns pedais de efeito".
Com essa proposta, a banda Zacempre fez alguns shows com o rapper Black Alien (ex-Planet Hemp) e com o Mundo Livre S/A, com quem tem uma história interessante. "Depois do show deles, eles ficaram pra ver o nosso e quando a gente começou a tocar, caiu o queixo dos caras. Até que a gente falou: pô, a gente nunca toca cover... o único cover que a gente toca na vida é do Mundo Livre e a gente queria pedir licença pra tocar uma deles. Os caras piraram, subiram no palco junto, cantaram junto, virou uma jam gigante. O Fred 04, vocalista e cavaquinista da banda, definiu: vocês são o samba do Sul. É o contrário do que é o mangue beat. A gente é da terra do maracatu, só que queríamos tocar guitarra. Pegamos as guitarras pra tocar maracatu e samba e vocês são do rock, e pegaram os instrumentos de samba pra tocar rock. É o samba do sul."
Cada vez que o MLSA vinha a Curitiba, eles eram convidados para dividir o palco. Porém, quando começava a se destacar, a Zacempre se desintegrou. Madu se decepcionou, mas não esqueceu da proposta e da experiência. Enquanto montava um estúdio próprio (o Recn Roll) e tocava com outros artistas, manteve a ideia do cavaco metaleiro. Em 2009, decidiu gravar. Mas os músicos da banda já estavam em outra e o resultado é que Madu tocou e gravou quase tudo sozinho, e, assim, surgiu o primeiro EP, O Samba do Sul, em 2011, ou seja, dez anos depois do projeto inicial.
O resultado animou Madu a tentar reativar uma banda para um novo disco.
"Agora sim, finalizando esse EP novo, vou lançar a banda que inventei há 12 anos", afirma. A Machete Bomb está composta por ele e mais Rafa, Thiagão, André Nisgoski, Rodriguinho e Menor.
O som do cavaco ficou ainda mais radical. Madu inventou uma simulação de "scratches" no instrumento, talvez influenciado pelo trabalho que faz com a rapper Karol Conka. Recentemente lançou vídeos no YouTube, com as gravações do disco e as participações de Big Papo Reto e DJ Ploc na música "Sai da Frente", e de Alexandre Duayer Chavez, o "Duay", que já trabalhou com O Rappa, Lulu Santos e Real Coletivo Dub. Petardos que, apesar de já terem quase 15 anos de idade, sopram ar fresco e inovador na música e no rock brasileiro. O novo EP, com a participação de toda a banda deve ser lançado ainda este ano.