Globalização pra valer é ouvir índios andinos tocando “Menino da Porteira” na Praça Osório, com aquela flautinha agridoce. Onde moramos? Ninguém disse que é preciso viver na cidade onde nascemos, embora Curitiba seja complicada e perfeitinha. Com olhos de luneta, logo percebemos que moramos em algum lugar no escuro do espaço, dando de ombro em anãs-vermelhas, meteoritos e pedaços de satélites russos.
Ando me afeiçoando às coisas do céu. Mais do que às da Terra, que parecem não ir muito bem (na Câmara dos Deputados há um sujeito que circula de farda e que acaba de criar o Partido Militar Brasileiro; o Oil Man faz tempo que não dá as caras; A Vila Olímpica foi-se; a luz subiu de novo). Há alguns meses encaro “Uma Breve História do Tempo”, livro em que Stephen Hawking explica porque vivemos no passado e outras coisas legais como: o universo teve mesmo um início? Terá um fim? Podemos voltar no tempo? É tranquilizante lembrar quão estúpidos somos em relação a tudo que nos envolve. De rir: ouvimos “você sabe com quem está falando” e não conhecemos nem o lugar onde sujamos os sapatos.
Leio devagar. Incomoda-me a quantidade de exclamações, mas as explicações são eficientes, mesmo para um jornalista em tempos de listas do Buzzfeed. Depois de atravessar um capítulo, a vontade é de ir até à janela, mirar o céu, ver uma estrela que não existe mais, sorrir um pouquinho.
O Netflix é uma beleza, sabemos. Tinha um pé atrás com os Ted Talks, aquelas conferências em que determinado tipo de conhecimento (às vezes muito importante) é expelido como numa ejaculação precoce. As pessoas deixariam de assistir se tudo fosse explicado sem micagem? A atração é a atuação de quem palestra ou aquilo que se compartilha? Não sei. Sei que há alguns Ted Talks muito bons sobre o espaço e tudo mais. São incríveis algumas descrições tão científicas quanto infantis como “matéria escura” ou “buraco de minhoca.”
Um desses programas trata do “design do universo.” Um professor muito importante, de barba e cabelos brancos, explica num upa que o ponto espacial em que colocamos roupa para secar e fazemos café tem uma forma repetitiva, progressiva e, por consequência, se desdobra em alguma outra coisa assustadoramente gigantesca que não temos a mínima ideia do que seja. Não é fantástico? Uma visão em 3D, ao fim do filme, nos mostra o que seria o design do universo: um emaranhado de galáxias, que se amontoam como bolinhas de lã num tecido xadrez de um cachecol fino.
Jason Pierce, do Spiritualized, sentenciou numa música espetacular que “estamos flutuando no espaço, senhoras e senhores”. Apenas isso. De ponta-cabeça, viajamos numa velocidade inimaginável, andamos de pernas de pau e discutimos Neymar.
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