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"Carnaval, carnaval. Fico tão triste quando chega o carnaval." Só podia ser Luiz Melodia o que tocava naquele apartamentozinho no Centro, em frente a um distinto bar que, com a ajuda de foliões serpentinados, entoava seu tradicional grito de alegria anunciando que a festa de quase uma semana inteira começava.

Foi de uma maldade sem tamanho o que fez o vizinho na última quinta-feira. Passou a mão no telefone – talvez com alguma raiva – e discou 190, informando que a baderna estava correndo solta bem ali na sua fuça.

Eram só oito e pouco da noite e a esquina fervia. O chão tomado de confete, a bandinha tocando marchinhas, o barril de chope ficando mais leve. E aí surgiram as sirenes e luzes, e com elas um pedido-ordem para que a festa acabasse ali mesmo e daquele jeito, quase como começou.

Como se não bastasse o frio e a garoa que açoitavam os sambistas sem jeito, agora era a voz das autoridades que ajudava a desafinar o bloco. Eram só oito e pouco da noite.

Parece que carnaval em Curitiba é algo que insiste em acontecer e por isso mesmo deve ser reprimido. Onde já se viu ir cantar "Bandeira Branca" em uma celebração de um bar de esquina?

Pior então é vestir a fantasia que cheira a mofo, a máscara de pierrô, esperar até 18h30 de hoje e dividir a experiência de ver o desfile das escolas de samba na Cândido de Abreu. Pois até os trios elétricos sofrem cerceamento. Quando passam pela lombada, a bateria perde o compasso e a porta-bandeiras balança diferente.

A maior festa do mundo soa como intrusa em uma cidade tão pouco dada a alalaôs. Quando acontece, vixe, é motivo de comemoração.

Pois, na mesma noite em que um vizinho de mal com a vida provocou a ira de pseudo-foliões, uma banda da cidade promoveu um carnaval particular em um bar tradicionalmente hype. DJs de outrora devem ter se revirado em seus cases quando ficaram sabendo que a música ambiente era samba e pagode. Onde já se viu? A notícia deveria correr o mundo, com manchetes sensacionalistas como "Pagode até o amanhecer", "O Rei Momo foi ao fumódromo" ou "Nelson Cavaquinho botou pra quebrar".

E que não me venham falar do carnaval do Rio de Janeiro, megalomaníaco e profissional – como se fosse possível profissionalizar uma festa que acontece espontaneamente. Também não vale o carnaval artificial de clubes, que reduzem a folia a um grande baile a céu fechado. O bom é sambar na chuva e no frio. Ouvir baterias atravessadas tomando uma Wimi, pensar em uma fantasia em que o guarda-chuva seja acessório indispensável. Não é bom nem ruim, é o que temos.

É por essas e outras que fico aqui neste carnaval, único e divertidamente plural, que consagra até zumbis e banda dinamarquesa – falo do Psycho Carnival, outra faceta bizarrinha do carnaval curitibano.

Pois bem. As arquibancadas do Centro Cívico já estão montadas, avisa um colega. As luzes a postos já iluminam as barraquinhas, que agora devem vendendo água para quem pensa que cachaça é.

E você, vizinho do apartamentozinho do centro, fã de Luiz Melodia, da próxima vez não recrimine um estalo de brasilidade, uma fagulha de sangue quente misturado a ziriguiduns exóticos. De balde d'água fria, amigo, já bastam os que vêm com a chuva.

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