• Carregando...
 | Osvalter Urbinati
| Foto: Osvalter Urbinati

Semana passada estive em um tradicional bar da cidade naquela hora pós-expediente, pré-casa. Um pão com bolinho depois, Vinicius Nisi entra, me cumprimenta e senta em uma mesa grande, onde caberia até uma penteadeira. A essa altura você, não marciano, já sabe que Vinicius Nisi é o tecladista d’A Banda Mais Bonita da Cidade e o diretor do clipe histórico que, atingindo números estratosféricos e promovendo na mesma medida elogios e impropérios, chegou ao Fantástico no último domingo (29).

Conversamos mais um bocado e acompanhei a movimentação da mesa ao lado. Cinco ou seis pessoas se aproximaram, duas delas com o que pareciam ser laptops. Em meio a abraços efusivos, pareciam estar tramando algo, embora a descontração – quase a mesma verificada durante a música "Oração" –, fosse a marca mais evidente. Todos pediram seus lanches, pimentinhas, tomaram cervejas, riram e tricotaram algo. Ninguém do bar reconheceu Nisi, adepto do chapéu e da barba por fazer.

Alguns dias antes, mas aí no fim de semana, encontrei Diego Perin. Baixista da Banda Gentileza e da Lemoskine, é um dos colaboradores que aparece no "clipe-feliz", tocando baixo e concertina. Ele pediu uma cerveja, cumprimentou alguns conhecidos e revelou que a Banda Mais Bonita da Cidade foi sondada por gravadoras. Até agora, o grupo não aceitou qualquer proposta.

Nesta semana, a internet me disse que a banda pretende lançar um disco de forma colaborativa – a palavra serve bem ao grupo, já sabemos. O site em que se encontra o projeto é o Catarse – a página é essa: http://catarse.me/pt/abandamaisbonitadacidade – e a ideia é a seguinte: o público escolhe as músicas que entrarão no primeiro disco d’A Banda via financiamento colaborativo. É uma espécie de crowdfunding para álbuns. Lá, lê-se: "Além de contribuir e ganhar benefícios, você vai nos ajudar a escolher as músicas que entrarão no disco: nós vamos abrir 12 projetos, um pra cada música. A música que não atingir o custo mínimo de produção, cai fora do disco e os valores apoiados para aquela música são devolvidos. (...) Você escolhe a sua música preferida e o valor a ser apoiado. Cada valor dá direito a uma recompensa diferente." O site não deixa claro qual é a recompensa. Os piadistas apostam tanto em flores do campo como em origâmi de papel reciclado.

Comer pão com bolinho, tomar cerveja nacional em copo de plástico, se reunir com amigos em mesa de bar, ignorar gravadoras e se embrenhar em um projeto colaborativo que corre o risco de não dar certo prova que A Banda Mais Bonita da Cidade é também a mais coerente. O clima de amizade e de sensatez persiste, mesmo com o Zeca Camargo batendo à porta. Pelo jeito tudo está sendo pensado, sim, mas a essência do que é o grupo não se extingue em nenhum momento. Nem quando há dinheiro envolvido.

Acabo de ler uma matéria da Revista O Globo do mês de maio. O quinteto foi recebido pela reportagem carioca e atiçou a curiosidade do maleiro."É banda de rock?, perguntou ao jornalista." Em parte da reportagem, há uma informação que quer dizer muito, apesar da aparente irrelevância: não houve cachê para os músicos que participaram da gravação do clipe, naquele domingo ensolarado em Rio Negro. Mas "foi servido um macarrão vegetariano temperado com manjericão e alecrim colhidos na hora. E cervejinhas para descontrair" .

Para aqueles que os criticaram pela felicidade escancarada ou pela fofice da música "Oração", o termo neo-hippie, então, seria o mais adequado agora. Anotem aí.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]