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Aqui em casa quem manda sou eu, minha mu­­lher não manda nada. Ela só pede:

– Diz a dona Margarida pra não fazer carne hoje, vamos co­­mer omelete.

Aí mando dona Margarida fa­­zer omelete, e depois vejo que ti­­nha esquecido como é bom omelete temperada com salsinha e queijo ralado, huuummm!

Ela diz que meu carro precisa de uma lavagem antes que eu leve multa por transitar com um chiqueiro pelas ruas. Digo que é exagero dela, e ela diz que é brincadeira:

– É só uma forma bem hu­­morada de não levar a sério a su­­jeira nem cultivar imundície...

Então mando lavar o carro, e não é que fica até com um cheirinho bom?

Ela vai lidar na horta, e de lá grita que acabou o cocô. Eu sei o que ela quer dizer: acabou o hu­­mus, que nada mais é do que cocô de minhoca. Então pego o telefone e peço mais humus, mas o jardineiro diz que só pode entregar amanhã, eu digo não, sou freguês de anos, o que pode haver de mais importante que atender um freguês antigo? Mando que traga o humus, minha mulher precisa de adubo agora, antes que caia o sol e ela venha me dizer, com cara de desconsolo, que só não plantou as cenouras porque não tinha adubo.

Então chega o adubo e depois ela me sorri agradecida e feliz, sabendo que tudo vai bem aqui em casa porque sou eu quem mando.

Noutro dia, ela me pede para pe­­dir ao jardineiro para podar uma planta, eu digo que não, é uma planta de que gosto muito. Ela diz que, podando, florirá mais. Duvido, digo eu, mas pergunto ao jardineiro, ele diz que sim, podada a planta florirá mais. Então mando podar, e depois a planta flore que é uma beleza. Um vizinho comenta, digo que fui eu que mandei.

– Você mandou florir?

Digo que sim, indiretamente mas praticamente, sim.

Um dia, ela olha os azulejos do banheiro com cara de nojo, decreta que é preciso uma reforma, trocar tudo, recobrir com um novo tipo de revestimento que é uma beleza e não faz sujeira na obra, e também diz que vamos aproveitar para trocar o box, o armarinho da pia, a própria pia e, já que, também a privada e o bidê, que será substituído por um chuveirinho de mangueira, que eu detesto em todos os hotéis.

Proclamo que bidês, para mim, são monumentos da civilização, mas ela me olha charmosamente de viés e murmura:

– Bidê lava de baixo para cima, o chuveirinho de cima pa­­ra baixo e, para quem menstrua, faz muita diferença.

Resisto, digo que dinheiro não cai do céu, é preciso pensar no amanhã, o suprassumo do su­­pérfluo é querer ter o que já te­­mos, e ela só sussurra:

– Não estou falando de ter, mas de melhorar. Mas, se você quer levar dinheiro para o caixão, melhor levar moedas, duram mais debaixo da terra.

Então rumino alguns dias, fustigado pelo silêncio dela, de­­pois mando, pego o telefone e simplesmente mando um arquiteto vir planejar e orçar um novo banheiro. Nossos novos banheiros, emenda ela, vamos reformar o ba­­nheiro social também. Mas no final das contas fica bom, aí faço um jantar para que meus amigos conheçam o novo ba­­nheiro, e eles perguntam de quem foi a idéia.

Ora, digo, que importa de quem foi a idéia? Eu é que mandei fazer.

Eles elogiam o peixe assado. Eu queria fazer churrasco, mas ela disse que não seria reunião de caminhoneiro e que, além disso, as mulheres de meus amigos iriam gostar de meu bom gosto ao escolher peixe, então me mandei para o mercado e comprei peixe, todo mundo gostou. Claro, porque aqui em casa quem manda sou eu.

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