Transeuntes circulam faceiros pela Praça Rui Barbosa perto das cinco da tarde, ostentando as suas casquinhas de sorvete – daquele sorvete “italiano”, metade creme, metade chocolate.
Outros, passam com seus copos de suco de melancia ou laranja, com gelo. As senhoras carregam suas garrafas d’água junto com as sacolas da Casa China. Se abanam, e exclamam: “...e ainda é inverno!”
O sol está bombando na cidade cinza.
E em boa parte do Brasil. Culpa da tal massa de ar seco que é tão forte que joga para fora qualquer intrusa chuvosa que tente se aproximar.
O moço da previsão do tempo, coitado, já começa o dia se desculpando: não tem nada de novo para falar. Sol e calor continuam. O inverno de Curitiba é mais quente do que o de Salvador – exibiu alguém dia desses no Instagram, postando prints dos aplicativos de previsão do tempo.
“É um sistema de alta pressão que não deixa as outras frentes passarem. Elas vão para o leste, ao invés de subir”, me explicou a meteorologista Ana Beatriz Porto, do Simepar, que se surpreende com tanto comentário sobre o fato. Afinal de contas, diz ela, agosto sempre foi um mês seco, de pouca chuva.
Creio que comemoramos demais o veranico depois de um julho esquisito, cheio de chuva e meio abafado. Mal deu geada, mal tiramos os casacos dos armários. O quentão não sobreviveu por muito tempo, e o pinhão estragou por causa de tanta água. Mas tinha algo que nunca mudava: continuávamos mendigando por qualquer réstia de sol ao abrir a janela. Desapontados, já nem contabilizávamos mais quantos dias a massa cinza cobria o céu.
Saíamos de casa com aquela chuva fina que nos atinge por todos os lados. Quase um borrifador de água na direção da nossa cara.
Curitiba, ô cidade pra ter céu nublado! Uma trégua nos fazia correr para uma praça ou parque próximos, aquele calor no rosto, as mangas arregaçadas, na esperança de absorvermos algo que ajude a melhorar os nossos ínfimos estoques de vitamina D.
E agora, o sol está bombando.
Todo mundo caminha sem olhar para a bola amarela no céu com tanta celebração: já não chove há 17 dias. O céu azul ficou corriqueiro. Tem dias que ele está mais vivo, outros, mais claro. De manhã, raramente, pairam algumas nuvens, que somem rapidinho.
Tem gente reclamando de rinite, sinusite e outras ites. Com os olhos ardendo, praguejam por terem esquecido os óculos de sol.
O sol está ficando banal em Curitiba. Nos escondemos atrás dos pontos de ônibus ao meio-dia para fugir do calor. No Circular Centro, os poucos passageiros ficam como baratas tontas, tentando, em vão, fugir do sol que castiga no engarrafamento da Presidente Carlos Cavalcanti.
No Parque Barigui, correr sem camiseta já virou lei.
Também não precisamos mais nos apressar para aproveitar uma tarde de sol no fim de semana, nem nos sentirmos culpados por trocar a grama pelo sofá. Com tantos dias de sol pela frente, é permitido “cabular” o dia.
“Não saio de casa nem a pau hoje!”
“Mas tem sol!”
“Ah, tá tendo tanto que já me acostumei!”