Entre os personagens da formidável fauna urbana, um dos mais comoventes é o “gordo ágil”. Vocês conhecem o tipo: são figuras luminosas, fluorescentes, como peixes de águas profundas. É aquele sujeito que não se deixa intimidar pelo sobrepeso e sabe mexer o corpanzil com coragem, como se fosse um Ney Matagrosso abdominoso.
Sim pois, não raro, o gordo ágil gosta de dançar e sabe como fazê-lo. Quem de nós não conhece um dançarino vultuoso que brilha nas festas de casamentos, formaturas e carimbós da vida. Ao ouvir os primeiros compassos de qualquer ritmo dançável, solerte o gordo ágil estica a mão fofa à alguma dama desacompanhada. Na pista, suas evoluções são um espetáculo de sensualidade ímpar; oh!, a beleza dos contrastes.
Ainda que, algumas vezes, o avantajado pé de valsa transpire um pouco demais, motivo pelo qual algumas parceiras evitam a contradança.
Mas o gordo ágil é um bravo que não se deixa abater. Pois quem escapa um pouco do padrão hedonista e irreal (e sem graça) da nossa era da ultra saúde, tem que matar todo dia um dragão preconceituoso. Quem já viveu a experiência de preencher um perfil assim mais graúdo e curvilíneo sabe que o teor de gordura corporal é mais importante que qualquer outra coisa para a maioria das pessoas.
Uma gorda estupidez humana tendo em vista que a grande obscenidade da vida é ser magro. “Os magros só deviam amar vestidos, e nunca no claro. Já os gordos são de uma mansidão bovina”, dizia o inescapável Nelson Rodrigues. É mesmo preciso ter cuidado com os magros. São perigosos, suscetíveis a acessos de fúria e rancores fatais. Sem falar que os grandes canalhas são, em geral, escanzelados. É certo que a obesidade traz complicações graves para a saúde. Isto, porém, não alcança o universo amplo do gordo ágil e sua saúde de nelore premiado.
Há gordos ágeis geniais no rock (Frank Black, dos Pixies), no cinema (o ídolo John Belushi) e em todos os segmentos sociais. O futebol também é terreno em que este personagem adorável se destaca. Quem gosta de jogar as suas peladas certamente já foi surpreendido por um adversário corpulento e, até então, subestimado.
E súbito está lá o ofegante artilheiro fazendo gols de tudo quanto é jeito e usando o corpo balofo para proteger a pelota. A torcida do Atlético Paranaense vive em estado de graça desde a chegada do talentosos e carismático Walter, o gordo ágil fundamental do futebol brasileiro no momento.
A história registra outros como Paul Gascoigne, Ronaldo e o maior de todos, Diego Maradona. Isto posto, com a caneca de caldo de mocotó eu brindo a este momento de afirmação do gordo ágil, esta gente boa e orbicular que tira a vida para dançar.