Atuação de Bianca Comparato é destaque no seriado| Foto: Divulgação

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A Menina sem Qualidades

Canal aberto MTV. Segunda a quinta-feira, às 23h59. Classificação indicativa: 16 anos.

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A primeira semana da série A Menina sem Qualidades, produzida pela MTV com direção de Felipe Hirsch confirmou a expectativa criada antes da estreia na última segunda-feira. O resultado foge totalmente ao padrão da televisão feita no país. E também da maior parte da produção estrangeira disponível nos canais abertos e a cabo. Algo que se antevia em uma empreitada unindo a liberdade criativa característica da emissora (para o bem e para o mal) ao texto perturbador do romance da alemã Juli Zeh adaptado por Hirsch, cuja carreira no teatro e no cinema é marcada por experimentações que, em regra, têm bons resultados.

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A julgar pela terça parte já exibida, está funcionando. Do ponto de vista da linguagem a série é absolutamente inovadora, com uma característica teatral que já se notava no primeiro trabalho de Hirsch no cinema, Insolação (2009).

A ação se passa em cenários recorrentes (a pista de atletismo, a banheira, a sala de aula...) aos quais a câmera sempre volta para, muitas vezes estática, mostrar os personagens ou os espaços em silêncio. Que de repente podem explodir em uma cena de violência furiosa, como na impressionante sequência final do primeiro episódio, que apresenta ao público o caráter da protagonista.

A solução combina muito bem com o texto, provocador, contundente e ardiloso, adaptado por Hirsch, Renata Melo e o tradutor do texto original, Marcel Balckes.

A narrativa dramática também sabe manter a melhor característica do livro – um romance que cria um universo adolescente sem, contudo, se preocupar em reproduzir a realidade. Os protagonistas são jovens inteligentes e niilistas que fumam, bebem, usam drogas e fazem sexo enquanto leem romances e conversam sobre filosofia e a existência de maneira eloquente.

O grande destaque destes primeiros capítulos é, sem dúvida, a atuação de Bianca Comparato no papel da protagonista Ana. Seu belo rosto de menina (não linda) dá legitimidade à angústia adolescente da personagem, que tem 16 anos. A atuação, porém, é madura e corajosa – a idade real da atriz (27 anos) permite que atue nas cenas mais ousadas sem ferir o Estatuto da Criança e do Adolescente.

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Os personagens secundários que aparecem quase de relance também são ótimos, em especial as mães dos protagonistas: mulheres na faixa dos quarenta anos que não estão sabendo envelhecer, sozinhas e entupidas de ansiolíticos.

A trilha sonora é digna de nota – como é regra nos trabalhos de Hirsch. Reúne desde algumas das melhores canções pop dos últimos 30 anos a experimentações de musica eletrônica ancestral de Rogério Duprat e Bernard Parmegiani.

Na trama, Ana é uma adolescente meio superdotada que encontra ao lado de Alex (Rodrigo Pandolfo), um jovem misterioso e manipulado, recém-chegado à escola, a chance de enfim achar seu lugar no mundo. Aos poucos, percebe-se, todos são envolvidos em um jogo.

A série também mantém essa lógica – não entrega obviedades ao construir com certa sutileza manipuladora a narrativa. Até agora deu certo.