Regina Casé aposta no improviso para comandar seu programa| Foto: Divulgação

Há algo de muito tropicalista no Esquenta!, programa dominical apresentado por Regina Casé. Ao contrário de atrações mais convencionais e de perfil mais pop, como O Caldeirão do Huck, que parecem ser milimetricamente roteirizadas, esta é caótica e barulhenta. Essas características, que podem soar como defeitos, na verdade são qualidades que a tornam menos previsível do que quase tudo que está no ar na tevê aberta – e sem resvalar no mau gosto.

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Bebendo da fonte do Chacrinha (1917-1988), Regina e o diretor Estevão Ciavatta, seu marido, vão na contramão da estetização pasteurizada e fogem da mesmice imposta pela indústria cultural, sem descartá-la por completo. Em um mesmo programa, por exemplo, podem compartilhar o palco um astro do sertanejo universitário e um sambista de raiz.

Coerente com sua trajetória, a apresentadora dá especial atenção a setores tanto da sociedade quanto da produção cultural quase invisíveis na chamada mídia, sobretudo na televisão. E se abre espaço para o mais tradicional, como as velhas guardas das escolas de samba, personificadas pela presença constante no programa do compositor e cantor Arlindo Cruz, também recebe manifestações mais contemporâneas, como o funk, o rap e o tecnobrega. Sem julgamento e sempre com muita curiosidade, buscando dar rosto, identidade a essas manifestações.

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Também na trilha do Velho Guerreiro, Regina assume os riscos da improvisação. Apesar de obviamente ter um roteiro, ela usa sua vasta experiência de atriz, comediante e apresentadora a serviço de uma proposta de desconstrução de padrões vigentes, que buscam o belo, o harmonioso, o palatável, atributos por vezes distantes da vida real.

Seja promovendo um concurso de samba para mulheres obesas ou reunindo uma legião de drag queens e travestis sobre o palco para dançar um potencial hit do próximo carnaval da Bahia, Esquenta! desconcerta, subverte e, acima de tudo, diverte, apresentando ao público um Brasil diferente – e bem legal.