Polêmico em versão repórter

Fernando Gabeira é jornalista de formação, mas foi a faceta política que o marcou. Participou da luta armada contra o regime militar, foi exilado na Europa e sempre defendeu causas polêmicas e ainda tabus na sociedade brasileira, como a profissionalização da prostituição, a descriminalização da maconha e o casamento gay. Depois de anos de carreira política e derrotado nas últimas eleições para prefeito e governador do Rio da Janeiro (em 2008 e 2010), Gabeira resolveu se dedicar ao ofício de formação e estreou, em setembro, um programa próprio de reportagens no canal pago Globo News.

A cada programa, Gabeira apresenta uma espécie de grande reportagem para a televisão, formato raro que, geralmente, fica restrito somente aos canais fechados. Mesmo que não seja em rede aberta, a atração ganha muitos pontos pelos temas relevantes e pelas fontes e lugares percorridos por ele.

Os temas variam, mas muitos programas se pautam em discussões recentes na sociedade brasileira – o primeiro episódio exibido, por exemplo, foi sobre brasileiros que não têm acesso a assistência médica. Para isso, apresentador e equipe viajaram ao Macapá e ao Maranhão, locais onde, de acordo com estatísticas, existe o menor número de médicos por habitantes. Lá, encontraram pacientes que precisam viajar 300 quilômetros para realizar uma diálise.

Mais recentemente, no último programa, Gabeira esteve em Montevidéu, capital do Uruguai, para ver como o país está lidando com o processo de legalização da maconha. Para quem pensa que o programa pode levantar "bandeiras" já abordadas pelo político Gabeira, está enganado. No caso deste episódio, ele entrevistou ativistas contra e a favor da legalidade, e mostrou como moradores convivem com as mudanças no dia a dia, e quais são suas opiniões sobre a medida.

O foco nos personagens das reportagens é outro mérito das matérias de Gabeira. Já entrevistou, sempre de maneira imparcial e sem julgamentos, travestis presas e mostrou o seu convívio nos presídios. Acompanhou também andarilhos que cruzaram o país de ponta a ponta pelas principais estradas do Brasil.

Até agora, uma das entrevistas mais comoventes foi com Elzinha, sobrevivente do manicômio de Barbacena, em Minas Gerais, que internou pessoas sem terem sintomas de loucura ou insanidade, entre 1930 e 1980. O programa contou a história do espaço, que também foi retratado no livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex (uma das fontes entrevistadas no programa). Segundo o livro, mais de 60 mil pessoas teriam sido assassinadas no local.

Para quem ainda não viu o programa ou perdeu algum episódio, todos eles estão disponíveis na íntegra no site da Globo News: g1.globo.com/globo-news.