Um basta ao politicamente correto

Pausa nas comédias pastelões, nas piadas escoradas em insuportáveis bordões e na graça apelativa ou puramente sexual. Sente-se confortavelmente na poltrona na quinta-feira à noite e prepare-se para o humor inteligente de Tá no Ar: a TV na TV, novo programa de Marcelo Adnet.

O cara sabe fazer graça não é de hoje, mas tinha sido apresentado à audiência da Rede Globo no sofrível O Dentista Mascarado – de dar vergonha alheia no mais displicente dos espectadores. Mas essa frustração é coisa do passado. Agora Adnet participa da criação, assina o roteiro do programa junto com Marcius Melhem e dá vida a personagens em que seu talento aflora.

A criatividade começa pelo formato do programa, em que os quadros vão aparecendo na telinha como se alguém estivesse mudando de canal. Quando a cena se desenrola, é uma surpresa melhor que a outra, a começar pela tiração de sarro de séries e personalidades.

Tem o Doutor SUS – médico brasileiro que é uma espécie de Dr. House do sistema público – cujo único diagnóstico que ele sabe dar é "virose", mesmo quando o paciente está com uma estaca atravessada no cérebro. Outra boa é a Sexy Indecisa, brincando com as personagens de Sexy in the City. Mas o melhor são as pequenas tiradas, como a propaganda da Galinha Preta Pintadinha, ou o personagem esquerdista que está na luta contra a Rede Globo. Com sotaque nordestino e imagem de webcam, ele aparece com aqueles discursos inflamados e mais do que batidos, típicos de quem só repete uma ideia, sem ter algo de muito original a dizer: "Onde estão as mentes pensadoras da Rede Globo? Há de se ter conteúdo. A Rede Globo que tudo proíbe, em que não se pode falar de outras emissoras como SBT, RIC ...".

Um verdadeira bandeira contra o politicamente correto e um abre alas à originalidade e ousadia. É tão bom de assistir que há momentos em que você se pega rindo não tanto pela piada, mas pela genial coragem de alguém ter feito tal graça em rede nacional.

Um bom exemplo disso é o clipe de rap de JC de Nazaré, com a gravadora Quarto Prego Records ou o quadro em que Queóps tem problemas com a administradora do cartão de crédito em meio à construção das pirâmides do Egito. Faz lembrar a antiga TV Pirata, com o humor simples e incrivelmente criativo.

Tomara que o programa sobreviva a todas as ondas chatíssimas que costumam gritar e se manifestar cada vez que alguma coisa verdadeiramente engraçada aparece. Já faço as defesas de antemão: não, a ideia não é fazer bullying com ninguém, nem ser machista, nem ofender qualquer religião, nem ser desrespeitoso com qualquer personalidade. Só fazer rir, só isso.

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