Artes visuais e teatro caminham de mãos dadas pela história da arte numa profícua interferência. Um exemplo é o pintor norte-americano Edward Hopper (1882-1967), que não só era influenciado pela cenografia de espetáculos a que assistia, mas também usou salas de apresentação como tema usual em suas telas. Ainda em 1903, no início da carreira e antes de firmar seu traço em Paris, o artista fez a quase expressionista Figura Solitária num Teatro.
Os palcos também abordam a vida e obra de artistas visuais com frequência. Em Curitiba, um grupo que tem essa pegada desde sua criação é o Obragem, de Olga Nenevê e Eduardo Giacomini. Na peça O Quarto (2006), eles partem de quadros de Hopper, além de Gustav Klimt e Balthus todos artistas da intimidade para compor suas cenas. A luz e as sombras que recaem sobre os personagens pintados são simuladas na montagem.
Uma referência ainda mais explícita é Tuíke (2006), em que eles abordam a obra do pintor e ilustrador francês Hubert Rublon e seu personagem Papy Pechou. Peças recentes como Longe, sobre o Amor, sobre Distâncias (2012) evocam com sutileza quadros como O Grito, de Edvard Munch (1863-1944).
Na Europa, uma "joint-venture" de artistas excursiona no momento com um sensível e inventivo trabalho sobre o escultor suíço Alberto Giacometti (1901-1966). Usando a linguagem de objetos, bonecos e marionetes integrada a projeções, atuação e música ao vivo, o alemão Frank Soehnle e o francês Patrick Michaëlis interpretam em Hôtel de Rive textos escritos pelo italiano como num diário ("Ontem, areia movediça"; "Um cego tateia na noite..." e "O Sonho, a Esfinge e a Morte de T.", além de um epílogo de "Paris sem Fim").
As figuras esguias e maceradas do artista surgem em interação com os atores, enquanto músicos usam de virtuosismo na trompa alpina. Espetáculo emocionante fica a dica para nossos curadores brasileiros que preparam neste momento as grades do que veremos em 2014.
Em cartaz em teatros de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador via Funarte, Exposição (2012), do curitibano Dimis Jean Sores, Cândida Monte e Gustavo Bitencourt, com criação coletiva de Eduardo Simões, Mariana Ribeiro e Talita Dallmann, conta trechos da vida de Helio Oiticica e Lygia Clark, dupla que transformou as artes plásticas nacionais na década de 60 e 70. Por meio de correspondências entre os artistas, o grupo faz uma divertida brincadeira, com diferentes instalações-performance pelo palco.
São exemplos que mostram quanto é bom quando o artista olha para trás e valoriza aqueles que vieram antes dele.