Margo Martindale protagoniza o curta “14e Arrondissement”, parte de Paris, Te Amo| Foto: Divulgação

A mulher é americana, passou dos 50, vive sozinha e trabalha como carteira em Denver, no Colorado. Depois de estudar francês durante um tempo, consegue guardar dinheiro para viajar a Paris – o sonho da sua vida.

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No intervalo das andanças que faz pela capital francesa, descansa no banco de um parque cheio de adultos e crianças. Uns deitam na grama debaixo do sol agradável, outros fazem exercícios, há os que brincam e os que passeiam. Parece o fim de tarde de um dia perfeito de primavera.

A cena faz parte do derradeiro curta-metragem de uma série que compõe o filme Paris, Te Amo (2006). É também o melhor de todos – não é acaso ter sido deixado por último.

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Nesse momento, no parque, a mulher americana diz sentir-se feliz e triste ao mesmo tempo. "Mas não muito triste porque eu me senti viva. Sim, viva", diz ela. A história dura pouco mais de seis minutos, narrada pela protagonista em um francês singelo, com sotaque pesado de americana. Nunca no cinema vi alguém ser capaz de descrever tão bem o que é viajar. A mulher conta que planejou passar seis dias na França e, no quinto, ainda estava sofrendo com o jet lag, sentindo-se cansada a maior parte do tempo, mas o cansaço não a impediu de aproveitar o tempo.

Andando pelas ruas parisienses, ela sonha em ter dinheiro suficiente para se mudar para a cidade, pensa que poderia entregar cartas em uma ruela linda, se lembra do namorado que teve dez anos atrás (hoje casado e com filhos) e sente falta de ter alguém com quem pudesse dividir as experiências da viagem. Sem perceber, ela repassa elementos essenciais da sua vida: o trabalho, os sonhos e o amor.

A razão de eu escrever sobre um filme de cinco anos atrás é que viajei a trabalho há duas semanas e a viagem teve uma série de dificuldades, mas também teve muitas coisas boas.

Estar numa terra estranha, muito longe de casa, tendo de se virar para as coisas mais elementares dá ao viajante uma perspectiva que ele não tem enquanto vive dentro da rotina, de casa para o trabalho e de volta para casa.

Não se pode fugir dos problemas com uma viagem – como dizem, não importa para onde vá, você carrega os problemas consigo –, mas dá para ganhar distância deles e talvez encará-los de forma diferente.

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A personagem do curta-metragem em Paris, Te Amo conseguiu ter a iluminação definitiva: ela se sentiu viva. Feliz e um pouco triste sem saber exatamente o porquê.

Gosto de pensar que todas as boas viagens são felizes e um pouco tristes, capazes de nos fazer sentir vivos.

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