| Foto: Felipe Lima/ Gazeta do Povo

Interatividade

Que livro você parou de ler no meio e se arrependeu? Qual valeu a perseverança de ler até o fim?

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Coitados dos livros que largamos pelo meio. Silenciados, perdem a chance de melhorar. Talvez por isso o jornalismo invista na pirâmide invertida, segundo a qual despeja-se a informação em ordem decrescente de importância.

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Mas os livros às vezes demoram para engrenar, e com isso correm sério risco de abandono. Aconteceu comigo com As Teorias Selvagens, da argentina Pola Oloixarac. A autora é uma fofa, supersimpática. A obra, competindo com uma pilha na última Festa Literária Internacional de Paraty, não vingou. Leio numa matéria da Marie Claire que estou certa: "Não é de leitura fácil. Cheia de citações e críticas sociais, exige persistência e familiaridade com a filosofia. Porém, ultrapassadas as barreiras, vale muito a pena". Mais uma vítima da impaciência.

Um colega justifica a interrupção de O Idiota, de Dostoievski, ocorrida muito antes de ele se tornar crítico literário: "Pô, eu tava lendo uma edição de bolso da Martin Claret, estudando para o vestibular e fazendo autoescola". Um só item desses bastaria.

No meu caso, me arrependo de cada dia que passa sem ter reabilitado Dom Quixote. Passado o cabo da boa esperança do primeiro volume, não sei que bicho me mordeu para interrompê-lo. Ele é engraçado e proporciona aqueles momentos de alegria linguística, especialmente nas falas contemporizadoras de Sancho Pança. Mesmo assim, permanece na estante há um, dois anos, aguardando sua reestreia na cabeceira. Será que o cavaleiro da Mancha encontrará sua Dulcinéia?

E olhe que é um livro tido em muito maior conta que Grandes Esperanças, de Charles Dickens. Esse permanece um mistério. A leitura ia indo, apesar de desanimar com a longa jornada livro adentro proposta pelas centenas de páginas. Como prefiro deixar as introduções e explicações para depois, não sabia nada da obra, fora uma citação lida em outro romance. E então ele começou a me confundir. Seria literatura infantil ou adulta? Piegas ou levemente melodramático? Repleto de chavões ou a real origem destes?

Vencido o questionamento, posso declarar que estou há 290 dias sem largar um livro – o argentino foi o último.

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Agora, existe também aquela outra categoria, a dos livros que deveríamos ter largado pelo meio. Lembro de pelo menos dois, impostos pela escola. Normalmente as pessoas reclamam da aversão adquirida aos clássicos como resultado da abordagem feita nos bancos escolares. Já eu preferia ter lido títulos consagrados, que ainda permanecem na minha lista de espera, no lugar de um ou dois lamentáveis. Onde estava Dickens, numa hora dessas?

Pensando bem, eu teria abandonado a redação desta crônica pelo meio, não fosse o compromisso de entregá-la. Será isso o que acontece com os escritores dos livros que largamos?