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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Se há uma vantagem em ficar mais velho e, se possível, amadurecer, é a descoberta do valor do silêncio. Quando somos muito jovens, falar pouco pode não ser uma opção, mas um sintoma, ligado à timidez, muito comum entre os adolescentes. Tão logo nos entendemos como gente grande, parece que falar se torna uma espécie de arma – ou de escudo, dependendo do caso.

Isso mesmo: ter opinião formada sobre tudo, e vociferá-la aos quatro ventos, se torna uma forma de se defender do mundo, para alguns. Dentro da equivocada estratégia de que a melhor defesa é o ataque. Não é. À medida em que o tempo avança, se conseguimos ficar um pouco mais sábios, e prestamos atenção ao que acontece à nossa volta, vamos nos dando conta de que quem fala muito tende a pouco, ou a quase nada ouvir. E aprender com os outros, então, ainda menos!

O silêncio, para quem se salva da armadilha da verborragia, vai deixando de ser um refúgio, um mero mecanismo de proteção. Vira uma escolha racional e consciente. Uma estratégia não mais de sobrevivência e, sim, de autoconhecimento. Aos poucos, e mais quietos, entendemos o lugar que ocupamos no tempo e no espaço. Quem ouve, afinal, costuma saber mais.

Outro dia, em meio a uma discussão acalorada em circunstâncias que não vêm muito ao caso revelar aqui, percebi algo que aos poucos se tornou óbvio. Quando todos querem, precisam dizer o que pensam, às vezes recorrendo ao cinismo, à agressividade, o discurso se esvazia. Prova ser um fim em si mesmo, e não um meio legítimo de expressão. Parece, ironicamente, que o empenho em ser ouvido é inversamente proporcional à atenção dada. Gritar – real ou metaforicamente – é a forma mais banal de querer (e, por fim, não ser) ouvido de verdade. Lobão e outros gritalhões de plantão que o digam!

Mas voltemos ao silêncio, esse sedutor. Em tempos de redes sociais, interatividade e do #prontofalei, em que todos querem ter voz, e poucos conseguem firmar alguma identidade mais sólida exercendo esse "poder", calar é uma espécie de pudor que não se confunde com passividade, comodismo e alheamento. Demonstra, na maior parte das vezes, inteligência e sensatez.

No poema "O Constante Diálogo" (1977), Carlos Drummond de Andrade escreveu: "Escolhe teu diálogo e tua melhor palavra/ ou teu melhor silêncio/ Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos". Concordo com o poeta mineiro: há uma conversa interna, muito rica por sinal, quando nada (ou quase) é dito.

É claro que, no momento certo, a melhor palavra, exata e bem colocada, seja com sutileza ou contundência, é essencial – e insubstituível quando acompanhada de uma argumentação sólida, de preferência movida por emoções genuínas.

Por fim, o silêncio pode acabar dizendo muito mais. E acho que já falei demais por hoje.

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