O filme A Pele de Vênus (2013), de Roman Polanski, coloca em cena uma atriz (Emanuelle Seigner) e um diretor de teatro (Mathieu Amalric).
Ela chega atrasada para um teste. Ele não consegue encontrar uma mulher capaz de interpretar o papel principal da peça que dá nome ao filme, inspirada nos escritos do austríaco Leopold von Sacher-Masoch (1836-1895), o nome na origem do substantivo "masoquismo".
Vanda é atabalhoada, chega ao teatro mascando chiclete, molhada da chuva, e parece boba na melhor das hipóteses. Thomas, o dramaturgo, não dá nada por ela. Quer ir embora, encontrar sua "cara-metade", jantar com vinho e tentar esquecer um dia difícil todas as atrizes que apareceram para o teste eram inadequadas.
Mas Vanda insiste em ler uma cena uma só e Thomas concorda relutantemente. Acontece que ela, quando começa a interpretar o diálogo entre uma mulher e seu servo, mostra um conhecimento impressionante do texto e um talento dramático notável. É como se a boba desastrada tivesse deixado de existir e no lugar dela surgisse uma mulher inteligente e dominadora.
Thomas percebe que Vanda pode ser a atriz que estava procurando e logo os dois embarcam no texto criando um jogo de cena que mistura tudo. O diretor com o dominado (Thomas aceita contracenar com Vanda) e a Dominadora com a atriz sem noção.
Vanda, numa das primeiras coincidências da história, é também o nome da protagonista da peça. A certa altura do filme, ela anuncia para o diretor: "Agora, o servo da peça vai se chamar Thomas". Ele aceita e a confusão entre os papéis aumenta.
No duelo, o que mais me chamou atenção foi como eles usam o texto teatral a ficção para dizer o que pensam e o que sentem. Acho que essa é uma experiência conhecida por quem gosta de filmes, livros e músicas. De repente, um personagem diz coisas sobre você que você mesmo desconhecia. Ou melhor: coisas que você conhecia, sim, mas que ainda não tinha colocado em palavras. O efeito disso é uma espécie de iluminação: você ouve ou lê as palavras e pensa: "Isso!".
Polanski leva Vanda e Thomas a um extremo. Fica difícil discernir o que é o diretor, a atriz e os personagens da peça dentro do filme. É como se eles desistissem de ser quem são para se tornar a ficção que imaginam para si. E o fim é degradante.
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