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Sarcey, numa ilustração comportada do crítico-rei parisiense | Reprodução
Sarcey, numa ilustração comportada do crítico-rei parisiense| Foto: Reprodução

Me pediram para ser mais explícita nas resenhas de teatro, algo equivalente a "Élcio, pode ir que é boa", ou "mãe, não vá que é fria". As pessoas querem saber se, afinal, devem assistir à peça em questão ou não. Para que mais serviria uma análise de um espetáculo?

É preciso diferenciar um texto de apresentação, muitas vezes escrito com base em entrevistas com diretores e atores sem que o jornalista tenha tido a possibilidade de assistir a um ensaio ou pré-estreia, de uma análise propriamente dita.

Mas o pedido por orientação para a escolha do que ver no fim de semana toca numa discussão relevante entre críticos das artes cênicas – quem sabe, entre críticos em geral: se o profissional deve emitir um julgamento, propriamente dito, ou limitar-se a fornecer uma de muitas visões possíveis para o que viu, a partir de um recorte x – sem precisar fazer um "check list" (nas palavras da crítica Luciana Romagnolli) de elementos como cenário, figurino, iluminação...

Trata-se de questão antiga. Naquela saudosa segunda metade do século 19, quando tantos métiers se profissionalizaram, a imprensa deu seu salto industrial e levou junto a crítica. Os textos eram caudalosos, inseridos em rodapés (chamados feulleitons) por todo o jornal. Diz-se que eram textos procurados com ansiedade pelos artistas – não que as opiniões fossem mais facilmente aceitas do que hoje.

Na Paris-centro-do-mundo daqueles idos, o rei era o Tio Sarcey, como era "carinhosamente" temido/esculhambado o principal redator de opiniões sobre teatro, Francisque Sarcey (1827-1899). "O tio está na casa", apavoravam-se os atores no camarim. Quando era publicada sua impressão, o tom era de julgamento definitivo. "Gostei" ou "não gostei", isso está "correto" ou não, "o texto do autor foi compreendido adequadamente" e por aí vai. O objetivo era encontrar a "pièce bien faite", a peça bem feita que se encaixasse nos padrões técnicos e estéticos em vigor.

No Rio de Janeiro-centro-do-Brasil, por muitos anos vigorou a pena de Bárbara Heliodora, conhecida por arrasar com aquilo de que não gosta – não sem argumentos. O leitor vai ao delírio.

Entre artistas, ainda que muitos hoje vejam nesse um método ultrapassado, a noite em que Bárbara estará na plateia é ansiada e serve de legitimação do espetáculo.

E em Curitiba? O chavão é "não tem crítica em Curitiba". Seja com textos mais ou menos explícitos, que recomendem uma obra ou simplesmente a esmiucem, o interessante seria que mais grupos teatrais vissem na opinião que parte da imprensa uma oportunidade de diálogo – não um chamado para a briga.

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