Há exatamente um mês, a atriz pornô mais cultuada da atualidade, a bela californiana de Sacramento, Sasha Grey, esteve no Brasil para o lançamento do seu primeiro romance, Juliette Society. A moça, que ingressou na indústria de filmes eróticos aos 18 anos (hoje, tem 25, e já está aposentada), fez nada menos que 271 filmes entre 2006 e 2011. Premiadíssima, chacoalhou a indústria na época, e ficou conhecida pela audácia de sua performance.
Sasha estudou atuação e cinema. É cinéfila, se interessa por filosofia e literatura. Tanto que o sobrenome de seu "nome de guerra" (o verdadeiro é Marina Ann Hantzis) é uma homenagem ao livro O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Ela não ficou restrita aos filmes pornográficos: estrelou campanhas publicitárias e videoclipes, e fez o papel uma garota de programa de luxo no filme The Girlfriend Experience, de Steven Soderbergh. Têm projetos musicais e interpretou ela mesma na série Entourage, da HBO. Enfim, virou uma "musa cult".
Com esse currículo, é possível concluir que Sasha, ao contrário do que o preconceito pode antever, é uma moça inteligente. E com potencial artístico.
O enredo de Juliette Society também é inspirado em sua própria experiência. O livro tem o seu valor. Principalmente, se o leitor quer, de fato, uma literatura erótica. Afinal de contas, ela sabe das coisas.
Na capa do livro, editado no Brasil pela Leya, uma frase estampada no topo: "destinada a ser a próxima E. L. James", definição do jornal inglês Independent. Injusto.
Nada mais imprudente: os enredos de Sasha e E. L. não têm absolutamente nada em comum. Juliette Society é escrito com mais cuidado, e vai direto ao ponto. Sasha não tem receio de nomear os órgãos sexuais, ao contrário da autora de Cinquenta Tons de Cinza.
Apesar do sucesso do lançamento no Brasil (segundo a assessoria de imprensa da editora, foram 800 pessoas na noite de autógrafos e 500 livros comprados, todos do estoque da livraria), Juliette Society não integra nenhuma lista dos mais vendidos das grandes livrarias no Brasil.
O que pode explicar essa falta de sucesso comercial? Sasha não é afeita ao romance, ao contrário da trilogia de E. L. James, que, no fundo, conta uma historinha de amor água com açúcar. Em Juliette..., os contratempos com um namorado esquisito até permeiam o livro, mas a protagonista não parece se abalar tanto assim. Outro problema é a maneira como Sasha escreve. A interlocução com o leitor o tempo todo acaba empobrecendo o texto.
Na ânsia de mostrar suas referências, sobretudo cinematográficas, a autora cita vários clássicos do cinema (como A Bela da Tarde, de Luis Buñuel), e a descrição fica cansativa. Outro fator decepcionante: ela promete falar da tal sociedade secreta, de poderosos que extravasam seus desejos mais sórdidos pelo sexo. Mas, infelizmente, não passa nem perto disso.
De qualquer forma, Sasha fez uma afirmação interessante em uma das dezenas de entrevistas que concedeu no Brasil. É um sinal de que, apesar dos pesares, ela procurou fazer um bom romance. Para ela, vários produtos culturais estão morrendo, menos o livro. "É algo que sempre vai estar por aí, e isso me dá esperança."
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