![Unidos pela dor para salvar o mundo Elle Fanning e Joel Courtney: heróis por acaso em aventura no fim dos anos 1970 | Divulgação](https://media.gazetadopovo.com.br/2011/08/d592f9bf7ae15da51d0b16cd4bf6c29b-gpLarge.jpg)
Ando meio cansado de filmes de super-heróis. Cheguei a pensar que estava velho demais para encará-los, mas acho que não é bem esse o caso. Depois de ver, nos últimos meses, Besouro Verde, Thor, X-Men: Primeira Classe e, há duas semanas, Capitão América, cheguei à conclusão de que, embora uns sejam melhores do que outros, e nenhum deles genial, todos têm o idêntico poder de, depois de apresentados os personagens e estabelecidas as premissas de suas respectivas tramas, me levar a um inevitável estado de torpor, tédio e, por fim, indiferença. Não é algo racional, intelectualizado, mas, antes, uma reação quase física.
As explosões, as correrias, as trocas de socos e pontapés, os embates físicos e bélicos entre os heróis e seus inimigos, inevitavelmente me levam a pensar nas contas que tenho de pagar no caixa automático, na lista de compras a fazer no supermercado depois da sessão, ou no livro que deixei aberto sobre a cama antes de sair de casa.
Andava seriamente desconfiado que essa intolerância tinha mesmo a ver com uma certa rabugice inerente à meia-idade, mas confesso que fiquei contente ao descobrir que estava enganado. No fim de semana passado, o último antes do término de minhas férias, me vi surpreendentemente comovido e empolgado ao assistir a Super 8, original mistura de aventura, ficção científica e drama familiar dirigida por J. J. Abrams, criador do seriado Lost e responsável pela animadora ressurreição da franquia Star Trek.
O filme tem acidentes e explosões algumas espetaculares, acreditem! um monstro extraterrestre e muita correria. Mas não há espaço para super-heróis. No lugar deles, um bando de adolescentes loucos por fazer cinema trash no fim dos anos 1970 e que se veem enredados por uma absurda trama que envolve a tentativa de esconder, e manter prisioneiro, um alienígena de aparência assustadora, mas que apenas deseja voltar para casa.
Qualquer semelhança com E.T. O Extraterrestre não deve ser mera coincidência. Super 8 é produzido por Steven Spielberg e trava com o melhor de sua obra um diálogo intertextual fascinante. As referências são inúmeras, a começar da caminhonete branca que atropela o trem que transporta o alien no início da história, eco evidente de Contatos Imediatos do Terceiro Grau, um de meus filmes favoritos, no qual o personagem vivido por Richard Dreyfuss tem seu primeiro "esbarrão" com os visitantes espaciais a bordo de uma picape semelhante e também diante de uma linha férrea.
Algo mais profundo, no entanto, aproxima Super 8 dos filmes de Spielberg. Como Elliot, o garoto vivido por Henry Thomas em E.T., os protagonistas Joe (Joel Courtney) e Alice (Elle Fanning) vêm de famílias fraturadas. O pai dele (Kyle Chandler), um policial linha dura, fica viúvo no início da trama; e o dela (Ron Eldard), um sujeito beberrão e desajustado, foi abandonado pela mulher e carrega a culpa de ter sido responsável pela morte da mãe de Joe. Em meio a toda essa dor, os dois adolescentes se descobrem capazes de enfrentar tudo e todos. E sem quaisquer superpoderes.
Talvez esteja justamente nesse ponto a minha relativa discórdia com os filmes de super-heróis: a ausência de humanidade, a falta de tridimensionalidade em muitas dessas histórias cito como honrosa exceção Batman O Cavaleiro das Trevas. Além de me devolver a alguns filmes de cabeceira de minha adolescência e primeira juventude (também lembrei de Goonies e Conta Comigo), Super 8 prova que, mesmo no cinemão de entretenimento, formulaico e assumidamente comercial, ainda há espaço para gente comum salvar o mundo.
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