Matthew McConaughey passa pelo tapete vermelho do Festival de Cannes| Foto: AFP

O diretor e roteirista Jeff Nichols fechou neste sábado (26) a mostra oficial do Festival de Cannes com "Mud", um filme que retrata com realismo e ternura o sul dos Estados Unidos e no qual se destaca o magnífico trabalho dos atores, em especial Matthew McConaughey e os garotos Tye Sheridan e Jacob Lofland.

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A história foi recebida com muitos aplausos em Cannes em uma edição na qual não houve um filme que gerasse unanimidade de público e crítica. Com "Mud", Nichols confirma uma visão muito particular do cinema que já havia mostrado em "O Abrigo", que no fim do ano passado faturou o Grande Prêmio da Semana da Crítica do festival.

Em 2012, o diretor levou a Cannes um filme sobre o amor visto através dos olhos de um garoto que tem uma enorme necessidade de entender o mundo que o cerca, que busca "desesperadamente uma versão do amor que funcione", porque não tem exemplos positivos a seu redor, explicou Nichols em entrevista coletiva.

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"Há uma linha que cruza este filme e divide o amor romântico e o amor não correspondido", acrescentou. Segundo ele, essa linha atravessa a vida do personagem Ellis (Sheridan) e lança uma mensagem: "com o amor sofremos, há dor, mas sem lamentações".

A história mostra relações muito diferentes: familiares, de amizade, de vizinhança, de casal, de ódio ou de busca. Como a que o personagem principal, de McConaughey, tem com sua namorada desde a infância. Ela é interpretada com grande realismo por Reese Whiterspoon, em um estupendo papel coadjuvante.

O personagem de McConaughey cruza o caminho dos dois garotos em um encontro por acaso, e eles o ajudam a escapar de todos os que o buscam pelo assassinato de um homem.

Esse papel representou para o ator texano um retorno à sua infância, a lugares conhecidos, a momentos como o do primeiro amor, quando não se tem nenhuma experiência no assunto. É um personagem "que não quer ser pragmático" e mostra a Ellis que é preciso persistir no amor.

Ellis e Neckbone são duas crianças que exploram a vida. Elas são interpretadas de forma emocionante por Sheridan e Lofland, que dão à história um tom de naturalidade, totalmente isenta de exageros.

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Os garotos foram criados em uma pequena cidade do estado do Arkansas, perto do rio Mississipi, cujas margens são o centro da vida dos personagens que transitam pelo filme: Ellis e seus pais, em plena crise matrimonial; Neck e seu tio; Mud e sua namorada, Juniper; e Mud e o homem que o criou, papel interpretado com brilho por Sam Shepard.

Todos os atores se sentiram muito à vontade no filme por todos serem naturais do sul dos Estados Unidos, de lugares muito parecidos com os dos grandes espaços abertos e a vida tranquila e sem ambições mostrada no filme.

É o caso de Whiterspoon, que cresceu perto de um rio, andando de moto e pescando com seu irmão. "Tinha a impressão de estar em casa", afirmou a atriz, que chegou à entrevista coletiva esbanjando sorrisos e com um vestido preto justo que evidenciava sua gravidez.

A atriz disse ter aceitado o papel por considerar que o roteiro "mostra o sul dos EUA como ele é na realidade" e, embora não costume atuar em trabalhos como este, o quis porque na trama há uma clara preocupação "com todos e cada um dos personagens".

O diretor dá muita ênfase à natureza, elemento que utiliza para transmitir emoções e também como descanso aos olhos do espectador, para quebrar o ritmo do filme e deixar espaço para a reflexão. Imagens de grande beleza, com o Mississipi como pano de fundo, dão ao horizonte um ar de protagonista.

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Nichols reconheceu que se inspirou muito em Mark Twain e seu romance "As Aventuras de Huckleberry Finn" para elaborar o roteiro. "Se você vai roubar coisas de alguém, deve roubar de alguém realmente inteligente", disse.