A única peça curitibana incluída na Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba vai ter o direito de ser a primeira a subir ao palco. Mirandolina, dirigida pelo italiano Roberto Innocente, faz sua estréia hoje, no primeiro dia de festival, com uma apresentação no Guairinha. A montagem também representa a estréia de Innocente como diretor de teatro na cidade. Radicado em Curitiba desde o ano passado, até o momento ele só montou duas óperas na capital paranaense.
Foi durante o processo de montagem de A Serva Padrona, a segunda ópera feita por Innocente no Paraná, que ele conheceu Mauro Zanatta, diretor da Escola do Ator Cômico. Na ópera, Zanatta conseguiu a proeza de dominar a cena, mesmo fazendo um papel mudo. E, de quebra, se acertou com Innocente. "Descobrimos que tínhamos muitos interesses em comum no teatro", conta Zanatta, que acabou convidando o novo colega para a montagem de sua peça.
O primeiro interesse em comum entre os dois foi justamente o apreço pelo autor de teatro italiano Carlo Goldoni, que produziu alguns dos textos mais importantes do teatro do século 18. Entre elas, o clássico Arlequim, Servidor de Dois Patrões. Innocente, como italiano de nascimento, não podia deixar de ser fascinado pelo escritor. Chega a compará-lo a Shakespeare, tanto pela grande quantidade de textos como pela importância de sua produção para renovar as montagens de sua época.
"Decidimos fazer Mirandolina até porque é uma pena que as pessoas por aqui não tenham acesso mais fácil aos textos de Goldoni, que são muito importantes para a história do teatro", diz Innocente, em seu português aprendido nos nove meses de Brasil.
O diretor, que chegou a Curitiba para a montagem da ópera La Bohème, no Guaíra, acabou se apaixonando por uma brasileira e decidiu ficar por aqui. Aprendeu o português tão bem que já achou problemas até na tradução existente do texto. Por isso, o grupo fez uma nova versão para a montagem.
A história acontece em uma hospedaria. Mirandolina é a dona do lugar. Uma mulher atraente que acaba recebendo cantadas de todos os seus hóspedes. Um deles, porém, é um homem tosco que trata muito mal a sua anfitriã. E é na vingança dela que surge a trama de Goldoni.
Mirandolina representou um avanço importante na história do teatro italiano. Em pleno século 18, a comédia dominante ainda era a Commédia DellArte, gênero em que algumas máscaras clássicas, como as de Pierrô, Arlequim e Colombina, vivem situações cômicas baseadas em um ou mais traços característicos de suas personalidades. A tradição vinha da Renascença e foi importante para o desenvolvimento do teatro europeu.
Goldoni, embora tenha escrito diversas peças de Commédia DellArte, faz algumas inovações em Mirandolina. Uma delas é ter acabado com os personagens clássicos e fazer com que eles tivessem uma personalidade um pouco mais variada, mais complexa. Por outro lado, ele se aproveita do ritmo ágil e das histórias simples sobre relacionamentos entre homens e mulheres para criar sua trama. Aliás, esse foi o principal trabalho de Innocente. Segundo ele, as montagens brasileiras costumam ter um ritmo mais lento. Ele imprimiu no palco a velocidade típica dada pelos italianos. E aposta que o público vai se divertir com a novidade.
Serviço: Mirandolina. Guairinha (R. XV de Novembro, s/n.º), (41) 3315-0979. Hoje e amanhã, às 20h30. Ingressos a R$ 24 e R$ 12. Informações: www.festivaldeteatro.com.br.
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