Números
Lista dos dez filmes mais vistos em Curitiba entre 1º de janeiro e 30 de setembro de 2011
Título - Nº de espectadores
1º. Os Smurfs - 197.524
2º. Rio - 194.005
3º. Harry Potter e as Relíquias da Morte - 183.309
4º. Piratas do Caribe4 - 160.050
5º. Carros 2 - 139.102
6º. Velozes e Furiosos 5 - 130.125
7º. Transformers 3 - 114.026
8º. Enrolados - 105.015
9º. Kung Fu Panda 2 - 94.900
10º. Se Beber, Não Case 2 - 94.668
Confira os cinco títulos nacionaismais bem colocados:
19º. Cilada.com - 57.373
20º. De Pernas pro Ar - 55.498
22º. Bruna Surfistinha - 48.824
26º. Assalto ao Banco Central - 41.965
38º. O Homem do Futuro - 22.973
Fonte: Revista Filme B, em versão digital, disponível no site www.filmeb.com.br
Prejuízos, trabalho e insistência
Cristiano Castilho
Produzir shows de rock em Curitiba e fazer com que eles obtenham sucesso de público parece ser uma atividade que está mais para detetive, vidente ou antropólogo do que para alguém com conhecimento da cena local munido de boas ideias e intenções. Obviamente, o profissionalismo das produções também é responsável por definir se um show será um sucesso ou não. Mas, ouvindo três produtores da cidade, chega-se à conclusão de que a tarefa é mais nebulosa do que parece.
"Em 2011, levei prejuízo em cerca de 70% dos shows que fiz em Curitiba", diz Beth Moura, da Verdura Produções. Mas o saldo é visto como um "investimento", já que, mesmo terminando o ano no vermelho, pessoas e produtoras de fora acabaram por conhecer o trabalho dela.
Ano passado, a Verdura realizou 45 shows em 30 eventos. Vanguart, Karina Buhr e Lucas Santtana, por exemplo, desembarcaram por aqui. Beth acredita que, se existe uma solução para aumentar e criar plateias, é levar os artistas para as ruas. "No bar, dá de seis a 300 pessoas. Na rua, de 500 a 6 mil. E uma parcela dessas pessoas vai gostar da banda e ir em um show pago na próxima vez", comenta.
Heitor Humberto, vocalista da Banda Gentileza, também se aventura em produções desde 2010. Em parceria com a Santa! Produções, a Fineza trouxe, entre outras, as bandas Móveis Coloniais de Acaju (dezembro de 2010), Apanhador Só (fevereiro de 2011) e Garotas Suecas (abril de 2011). Os grupos são aclamados por boa parte da crítica, mas, quando se fala em público, a história é outra. "Tive prejuízo financeiro nos dois primeiros pelo modo como produzi. Os outros não deram prejuízo porque não corri riscos e tive apoios. Mas são dias de stress e dor de cabeça que não são recompensados. O dinheiro que sobra acaba pagando algum eventual táxi ou gasto inesperado", diz Humberto.
O músico ainda cita uma situação emblemática. "Trouxe o Supercordas para tocar em Curitiba ao lado do Charme Chulo bem no momento em que os dois grupos tinham seus trabalhos elogiados pela mídia nacional. O ingresso custava menos de R$ 10 e o público foi de pouco mais de 50 pessoas."
Um alento é que, ao menos na visão do produtor, o fator "público curitibano" parece não ser um complicador. "Em qualquer lugar um produtor precisa conhecer o público, verificar possibilidades. O fator Curitiba não é diferente do fator São Paulo ou Porto Alegre. Com bom planejamento e uma boa visão do negócio, é possível minimizar esses riscos e essa esquizofrenia. Não se pode pensar no público curitibano como um impeditivo para realizar um evento, mas sim como um incentivo."
Já para Andy Andrade, da Oxigênio Eventos, geralmente os shows "empatam", isso é, não dão lucro nem prejuízo. "O saldo de shows internacionais é positivo", acrescenta. No ano passado, a Oxigênio trouxe a Curitiba Reel Big Fish e Goldfinger, entre outras bandas. Para março deste ano, a produtora confirmou o show do grupo norte-americano Cake.
Uma suspeita: os curitibanos não curtem muito o cinema brasileiro. Há alguns indícios fortes que sustentam essa hipótese. A partir de dados coletados entre 1.º de janeiro e 31 de setembro de 2011 em dez cidades brasileiras (confira quadro nesta página), o site Filme B, o mais completo portal sobre o mercado cinematográfico do país, constatou que as produções nacionais respondem por apenas 8,9% da audiência curitibana, a menor média entre as praças analisadas, e nenhum dos longas-metragens brasileiros ficou entre os dez mais vistos na capital paranaense. O filme brasileiro mais bem colocado, Cilada.com, ficou em 19.º lugar, com 57.373 pagantes. O campeão de bilheteria em Curitiba foi Os Smurfs, 197.524 ingressos vendidos, batendo Rio, o mais visto no país até então.
Assim como Curitiba, Porto Alegre, onde o market share correspondente à produção nacional foi de 10,3%, também não teve nenhum longa brasileiro entre as dez maiores bilheterias no período. O diretor do Filme B, Paulo Sérgio Almeida, não acredita que haja exatamente um preconceito contra o cinema nacional no sul do Brasil, mas é fato que as produções feitas no país têm um desempenho pior na região. Em 2011, filmes brasileiros responderam por 14% do mercado, atingindo médias ainda maiores em cidades como Recife (19,5%), Salvador (19%), Rio de Janeiro (17,3%), Belo Horizonte (15,6) e Manaus (14,5%).
Embora não exista uma razão que explique o comportamento do público em Curitiba ou na capital gaúcha, há algumas hipóteses. A primeira delas, diz Almeida, está relacionada ao perfil dos filmes brasileiros mais vistos neste ano: De Pernas pro Ar, Cilada.com, Bruna Surfistinha, Assalto ao Banco Central e Qualquer Gato Vira-lata. Todos são produções que contam com copatrocínio, utilizado no lançamento e na divulgação, da Globo Filmes, e têm forte sotaque carioca, com o qual o público, tanto em Curitiba quanto em Porto Alegre, teria menor idetificação, afirma Almeida. "Sem falar que De Pernas pro Ar e Cilada.com são filmes muito escrachados, com um tipo de humor que eu acho que não cola aí no Sul."
Para se ter uma ideia, Cilada.com, apesar de ser o brasileiro mais assistido do ano em Curitiba, teve, na capital paranaense, o menor público entre todas as cidades pesquisadas.
Mas há outros motivos que dificultam as carreiras dos longas brasileiros no Sul. Há, conta o diretor da Filme B, um consenso entre produtores e distribuidores de que Curitiba e Porto Alegre não são boas praças para o cinema nacional. Portanto, os filmes costumam demorar mais para serem lançados e não há tanto investimento na divulgação das produções. "Aqui no Rio, em São Paulo, e mesmo no Nordeste, os diretores e o elenco vão às universidade, às escolas, fazem um corpo a corpo com a comunidade. No Rio Grande do Sul, o Festival de Gramado já teve esse papel, mas não tem mais."
Assim, cria-se uma espécie de círculo vicioso. Como o público é menor, investe-se menos no lançamento. E, se há uma divulgação mais tímida, a bilheteria é menor. "Quem teria de mudar esse quadro são os filmes, os produtores e distribuidores. Há mercado, mas é preciso investimento na formação de plateia", afirma Almeida.
Filmes para a família
O mercado curitibano de cinema é um tanto paradoxal. A cidade teve em 2011 a quinta maior renda, entre as grandes cidades brasileiras, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. E conta com um circuito bastante robusto: tem cerca de 15 mil assentos distribuídos em 70 salas de exibição espalhadas pela cidade.
Por outro lado, esse público de quase 4,3 milhões acumulados até a penúltima semana de dezembro, segundo dados da Filme B, parece concentrar seu interesse, primordialmente, em blockbusters, em filmes voltados para a família, crianças e adolescentes. "Detectamos em nossas pesquisas um desinteresse acentuado por filmes de arte em Curitiba, por exemplo."
Com o fechamento, ao longo dos últimos anos, de cinemas que focavam sua programação nesse tipo de cinema, como o Groff, o Ritz e o Luz, todas salas administradas pela Fundação Cultural de Curitiba, o hábito de assistir a títulos mais autorais parece ter desaparecido em certa medida. "Essa é uma cultura que Curitiba tinha e parece ter se perdido", diz Almeida.
Além da Cinemateca, apenas o Unibanco Arteplex (no Shopping Crystal), fechado para reformas e em vias de se transformar em Espaço Itaú de Cinema, e o Cineplex Batel abrem algum espaço para essas produções, mas essas salas não chegam a corresponder a 10% do mercado exibidor local, já que nem todas só exibem filmes mais alternativos.
Interatividade
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