Mais conhecido por seu trabalho à frente das bandas Blur e Gorillaz, o músico, cantor e produtor inglês Damon Albarn é também um dos grandes responsáveis pela disseminação da música do Mali pelo mundo, especialmente na Grã-Bretanha.
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Sua relação com o país africano teve início em 2002, quando ele foi convidado pela Oxfam International (Comitê de Oxford de Combate à Fome) a participar de ações da instituição no Mali, com o objetivo de atrair a atenção do mundo para a então crescente crise humanitária no país e para o problema da fome na África Central e Ocidental.
Mesmo sendo um grande admirador da música africana a Honest Jons, loja de discos que ele frequenta no oeste de Londres, possui um grande acervo do gênero Albarn não ficou muito entusiasmado com a ideia. O músico nunca simpatizou com projetos beneficentes como o Live Aid concerto realizado em 1985, em Londres, com o intuito de arrecadar fundos para os famintos da Etiópia que, em sua opinião, apenas reforçavam a ideia de fragilidade da África, sem sequer mencionar a vasta riqueza cultural do continente.
Albarn, então, propôs algo diferente à Oxfam: ir ao Mali, se enturmar com os inúmeros músicos locais e gravar tudo o que surgisse desses encontros. Levando consigo apenas uma escaleta, Albarn participou de diversas jam sessions com músicos malianos. "Lá, eles nem sonham em tocar uma canção por apenas três minutos, porque, na cabeça deles, em três minutos a música ainda nem começou a se desenvolver. É muito saudável para um artista ir a lugares assim", contou o líder do Blur em entrevista ao jornal The Telegraph, em julho do ano passado.
Albarn ficou apaixonado pela cultura da região, fez bons amigos, entre eles Afel Bocoum (sobrinho do famoso cantor e guitarrista maliano Ali Farka Touré), e conquistou novos parceiros musicais. Tanto que, naquele mesmo ano, produziu o álbum beneficente Mali Music (saiba mais no quadro ao lado), disco colaborativo com músicos da região. Desde então, Albarn voltou ao Mali diversas vezes, levando com ele artistas como Fatboy Slim e Martha Wainwright para trabalhar ao lado de lendas da música maliana, como Toumani Diabaté, Salif Keita e a dupla Amadou & Mariam. Em 2006, fundou o selo Africa Express para promover essas colaborações interculturais. Também passou a levar artistas africanos à Europa Bocoum, por exemplo, não tinha ideia da fama de Damon Albarn até tocar ao lado dele para uma multidão de 65 mil pessoas no palco principal do Roskilde Festival, na Dinamarca, em 2003.
Em 2011, o cérebro por trás da banda animada Gorillaz resolveu expandir seu projeto do Mali até a República do Congo (DRC, na sigla em inglês). Lá, se uniu ao coletivo de produtores musicais congoleses DRC Music, ao lado do qual gravou e produziu, em apenas cinco dias, o também beneficente Kinshasa One Two (saiba mais no quadro ao lado), cujos lucros de venda são igualmente revertidos à Oxfam.
África a bordo
No ano passado, Damon Albarn levou a música africana ainda mais além. E desta vez, a bordo de um trem. No dia 2 de setembro, cerca de 80 músicos africanos, ingleses e norte-americanos partiram de Londres em uma excursão rumo a cinco cidades do Reino Unido em um trem fretado e customizado havia um vagão especialmente preparado para que os artistas pudessem tocar e compor durante a viagem.
Batizada de Africa Express, a turnê fez escalas em escolas, hospitais, fábricas, escritórios e shopping centers, onde os músicos promoveram apresentações musicais gratuitas, além de
shows especiais (pagos) em cada cidade visitada. Na "lista de passageiros" constavam nomes como Gruff Rhys (Super Furry Animals), John Paul Jones (Led Zeppelin), Jack Steadman (Bombay Bicycle Club), Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs) e importantes representantes da música africana atual, entre eles as cantoras malianas Rokia Traoré e Fatoumata Diawara e o músico senegalês Baaba Maal.
O projeto, realizado em parceria com o centro multi-artes Barbican Centre, de Londres, culminou com um show de duração de cinco horas, atrás da estação Kings Cross, na capital inglesa, onde o trem encerrou sua jornada. Poucas horas antes da apresentação, Albarn revelou aos músicos que ninguém menos que Paul McCartney havia pedido para subir ao palco. "Amo a música africana há anos. Fui para Lagos nos anos 70 e voltei amigo do Fela Kuti [multi-instrumentista nigeriano pioneiro do afrobeat]. Por isso, eu sempre quis tocar em um show do Africa Express", disse o ex-beatle em entrevista ao jornal The Guardian.
Naquela mesma ocasião, Damon Albarn fez questão de ressaltar que, em suas viagens à Àfrica, ele recebeu muito mais do que doou. "Só estamos tentando dar às pessoas uma noção dessa coisa incrível que a música africana possui e colocá-la em lugares diferentes, onde ela ainda não germinou", explicou.