Para saber mais
Questão de Ênfase
Susan Sontag(Companhia das Letras, 448 págs., R$ 57,00)
Uma das mais influentes intelectuais contemporâneas, Susan Sontag vai fundo no embate entre ética e estética em Questão de Ênfase. O livro reúne mais de 40 ensaios que vão da paixão pela literatura à tragédia de Sarajevo sendo este último dedicado à importância da tradução de uma obra, no qual Susan afirma que além de resgatar, traduzir significa enfrentar, aprimorar e até mesmo negar as diferenças. A autora faz ainda uma profunda reflexão sobre a leitura de autores como Roland Barthes e Jorge Luis Borges.
A Arte de Traduzir
Brenno Silveira(Unesp, 224 págs., R$ 30,00)
De maneira didática e bem-humorada, o renomado tradutor brasileiro questiona, em A Arte de Traduzir, o que é necessário para se fazer uma tradução de qualidade. O autor nega que bons conhecimentos de letras e linguagem sejam suficientes e ressalta que, entre as qualidades essenciais de um tradutor, estão a humildade intelectual, a fidelidade ao pensamento do original e, principalmente, cultura geral literária, psicológica e histórica. Esses quesitos, somados ao pendor artístico, fazem do ato de traduzir uma verdadeira arte.
"Traduções são como prédios. Se tiverem algo de bom, a pátina do tempo lhes dará um aspecto melhor", escreve a escritora Susan Sontag, no ensaio "Sobre Ser Traduzida". Ao citar alguns destes tradutores beneficiados pela passagem do tempo, brinca com o leitor ao incluir Constance Garnett como a maior escritora russa do século 19 (a tradutora britânica introduziu boa parte da literatura russa ao público de língua inglesa do século 19).
Nem sempre as traduções mais admiradas, ou duradouras, são as mais exatas. É claro que, hoje em dia, não basta traduzir o significado, como fazia São Jerônimo ao decifrar a Bíblia para o latim. Fidelidade, no entanto, não é vista como sinônimo de tradução literal.
"Não raras vezes precisamos abrir mão de certas equivalências para codificarmos na língua-alvo a idéia principal do texto original", explica o professor Adail Sebastião Rodrigues Júnior. Caetano Galindo, tradutor de Ulisses, complementa: "Não existe tradução ipsis litteris. Isso seria cópia. E mesmo a cópia, como o lindo conto "Pierre Menard, autor do Quixote", de Jorge Luis Borges, já demonstrou, pode não existir. Copiar já é tornar-se de alguma maneira ciumentamente autor".
Quando Galindo se denomina "escritor do livro de fulano", como diz fazer, porque considera a tradução um diálogo entre dois autores, não passaria de tradutor a traidor?
"Há sempre algum grau de traição na tradução, na medida em que nunca é possível encontrar o correspondente exato daquilo que o autor exprimiu. Quanto mais rico for o texto original, não só em sentido, mas em ritmo e sonoridade, mais difícil fica não trair", discorda José Geraldo Couto, que recentemente traduziu A Fera na Selva, de Henry James (Cosac Naify, 96 págs., R$32).
Código moral
É claro que há um "código moral" a ser seguido que, para Galindo, é o mesmo de qualquer pessoa. "Não minta, não omita, não distorça. Eu só reforço que essa preocupação é devida ao autor e à língua-alvo, final. A situação é ambígua, mas o que se busca é esse produto final de autoria dupla: criado, concebido, tramado e composto por fulano (o autor, que não pode ser "traído"), porém escrito por beltrana (a tradutora, que escreve em sua língua, que não pode ser "traída")", explica.
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