Os filmes brasileiros teriam muito mais chance de sucesso no exterior se não fossem "tão brasileiros". A opinião é do diretor do Festival de Veneza, Marco Muller. Segundo ele, os bons filmes nacionais falam dos problemas do Brasil de uma forma muito brasileira, o que faz os estrangeiros não entenderem nada. "A discussão sobre os filmes brasileiros foi para mim uma luta contínua com o comitê de seleção", disse ele em entrevista à "BBC".

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No entanto, a principal mostra competitiva da edição de 2005 do festival, que começa dia 31 de agosto, vai ter a presença do Brasil. Assim como as mostras paralelas. O longa-metragem do diretor brasileiro Fernando Meirelles, "O jardineiro fiel", por exemplo, vai disputar o Leão de Ouro. Na visão do diretor da mostra, este longa é uma exceção: é falado em inglês, numa produção dividida por Alemanha, Grã-Bretanha e Quênia.

Segundo Muller, o rótulo de "brasileiros demais" foi dado a filmes de Andrucha Waddington, Sérgio Bianchi e Beto Brant, que foram apresentados aos organizadores do festival este ano e que acabaram sendo rejeitados pelo comitê de seleção. "Eu gostei muito dos três filmes, mas o comitê não entendeu nada. Eles precisam compreender mais o cinema brasileiro. Mas os diretores também devem pensar na possibilidade de exportar seus filmes", disse ele.

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Além de Fernando Meirelles, outros brasileiros participam de Veneza. O pernambucano Lírio Ferreira, que dirigiu "Baile perfumado", em 1996, junto com Paulo Caldas, é um deles. Ferreira participa com "Árido movie" na mostra Horizontes, dedicada a novas tendências do cinema. "Fiquei surpreso com o resultado do trabalho do Ferreira. Gostei muito de 'Baile perfumado' e sou um apaixonado por histórias de cangaceiros", afirmou entusiasmado Muller. "'Árido movie' parece um poema épico, como foi 'A idade da Terra', do Glauber Rocha".

O Brasil também marca presença no festival com o curta-metragem "De Glauber para Jirges", do cineasta André Ristum e com a participação da diretora Katia Lund no filme "All the invisible children" que não disputa prêmios. O longa é uma produção italiana com conta com a participação de vários outros diretores como Spike Lee, Emir Kusturica e Ridley Scott.

Marco Muller, que é italiano, mas filho de mãe brasileira, é produtor de filmes, vencedor de um Oscar e ex-organizador dos festivais de Locarno, na Suíça, e de Roterdã, na Holanda. Ele está à frente da seleção de Veneza pelo segundo ano. Em 2004, Muller foi criticado pela grande presença do cinema dos Estados Unidos e pela desorganização do evento.