Depois de sete anos vendo Douglas Silva e Darlan Cunha crescerem em frente às telas da TV como Acerola e Laranjinha, chegou a hora da despedida. O longa-metragem "Cidade dos Homens", uma das novidades nos cinemas, marca a conclusão da história dos dois adolescentes que cresceram juntos em uma favela carioca. A partir de agora, os personagens ficam para trás, enquanto os dois jovens atores dão continuidade às suas carreiras. Douglas quer continuar a carreira nas telas de cinema, já Darlan vê seu futuro atrás das câmeras, como diretor.
- Agora é a hora da gente mostrar que interpreta, que nós não somos Laranjinha e Acerola. Não tenho medo de ser reconhecido como Laranjinha para sempre. E, se eu for, não me importo. Depende de mim, de eu mostrar meu trabalho para que as pessoas reconheçam o Darlan e deixem de me confundir com o personagem - conta Darlan Cunha.
Acerola e Laranjinha apareceram pela primeira vez no curta-metragem "Palace II", de Fernando Meirelles, exibido como um especial de TV dentro do programa "Brava gente", da Rede Globo, em 2000. Na época, Douglas e Darlan tinham apenas 12 anos. Depois do sucesso de "Cidade de Deus", em 2002, a produtora O2 Filmes decidiu produzir a série "Cidade dos Homens" para mostrar o dia-a-dia de dois adolescentes na então pouco retratada periferia carioca. Ao todo, foram quatro temporadas do programa, que teve seu último episódio exibido em 2005, até ganhar conclusão definitiva nas telas de cinema.
- É legal que essa despedida aconteça com um longa. Eu vou sentir saudade, claro. A gente ficava três, quatro meses nos estúdios, 24 horas por dia juntos e a equipe acabou virando uma família. Disso é que eu vou sentir mais falta. O que é mais legal é o que o Laranjinha trouxe para mim, como o Douglas, que é meu irmão. A gente ficou muito amigo nesses anos todos e se ama muito - diz Darlan.
Para Douglas, a despedida é um misto de alegria e tristeza:
- Fico um pouco triste porque é o final de um trabalho de tanto tempo e que me trouxe tanta coisa, mas fico alegre que agora começam a se abrir as portas.
O desafio para os dois, de agora em diante, é se dissociar da imagem dos personagens, já que a série - assim como o filme - destacou-se por tratar com muito realismo o cotidiano dos jovens que vivem nas comunidades.
- Não tenho medo de ficar estereotipado. É engraçado isso de ficar marcado. Eu acho até bom que as pessoas lembrem do Acerola. Mas eu acho que quando eu fizer outro personagem marcante, isso vai mudar. Quando comecei a fazer "Cidade dos Homens", as pessoas esqueceram o Dadinho (de "Cidade de Deus") e começaram a me chamar de Acerola. Mas, para mim, sempre foi muito claro quem é o Douglas e quem é o Acerola. No começo, o público confundia mais porque era muito real, mas hoje não mistura mais - conta Douglas.
A julgar pela agenda dos dois, parece que oportunidades não faltarão para que se livrem dos rótulos. Ambos têm contrato com a Globo e vários planos. Darlan vive o personagem Sandro na novela "Sete pecados" e espera ser convidado para outros trabalhos, mas vê seu futuro também atrás das câmeras.
- Eu quero ser diretor. Quando acabar a escola, no ano que vem, vou estudar cinema fora do país.
Já Douglas gravou uma participação na série "Carga pesada", ao lado de Antônio Fagundes e Stênio Garcia, além de ter acabado de participar do longa "Ônibus 174", de Bruno Barreto, rodado no Rio. Até o fim do ano, ele vai atuar em "Blindness", novo filme de Fernando Meirelles, baseado no livro "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago. No elenco, também estão nomes como Gael García Bernal e Julianne Moore.
Apesar de o longa "Cidade dos Homens" dar um ponto final na história dos amigos Acerola e Laranjinha, Douglas deixa no ar que, no futuro, o diretor Paulo Morelli possa querer mostrar como estaria a comunidade daqui a dez anos, mas sob um novo ponto de vista, enfocando Cleiton, o filho de Acerola.
- Se, para nós, o futuro a Deus pertence, o futuro do Acerola ao diretor pertence - brinca Douglas.