Produtor de filmes B busca recursos para novo filme, em "O Crocodilo"| Foto: Divulgação/Downtown Filmes
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Paula Toller deu uma prévia do show de seu segundo CD solo, "SóNós" na noite da segunda-feira (3), na série Palco MPB, no Estrela da Lapa, Rio de Janeiro, para uma platéia entusiasmada que em nenhum momento pediu música do Kid Abelha, um endosso certeiro do repertório apresentado por ela. Com exceção de sopros, os instrumentos são os mesmos usados no Kid, mas de maneira diversa, por uma banda excelente. Um som pop direcionado para o que o mercado chama de segmento adulto contemporâneo.

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Paula anunciou que o show começa a correr os Brasis nos dois últimos dias de agosto, estreando em Porto Alegre (RS). "Vamos lá passar muito tempo em aeroporto," brincou ela numa crítica bem humorada que teve outros alvos, como o frio dos últimos dias no Rio. "Um pouco demais para o meu gosto. Ontem [domingo] fiquei em casa congelando e vendo o Pan. Achei tudo muito bonito, incluindo as vaias. Eu vaiaria as autoridades da aviação e o presidente da República. E tem também o caos terrestre: as estradas não são melhores e eu já perdi um irmão nelas," falou ela em resposta a pergunta do locutor Fernando Mansur, da MPB FM. As vaias no fechamento do Pan foram direcionadas para o governador do Rio, Sérgio Cabral, o prefeito do Rio, César Maia, e o presidente Lula. O irmão dela se chamava Carlos Eduardo (1960 - 1995).Com a cancha de 25 anos de Kid Abelha, Paula faz seus primeiros shows solo como uma cantora segura, que poderia ocupar um lugar num escaninho de vozes femininas do pop ao lado de Zélia Duncan e Ana Carolina, com uma boa dose de Rita Lee, a quem ela atribuiu a invenção do modo de cantar rock em português.

Paula começou com a bela balada "q? (O q é q eu sou)", presente de Erasmo Carlos, sobre as dúvidas existenciais da condição humana, interpretada com suave dinâmica e uma pitada de tensão. "Meu amor se mudou para a lua", o já hit, seguiu-se, já conhecida das rádios pela generosidade de promover inicialmente uma canção alheia, de "Nenung", do grupo gaúcho Dharma Lovers.

O que chamou de sua loucura em ser mãe no mundo de hoje pariu duas canções para Gabriel, nome do seu filho, e da primeira música - feita quando ele tinha oito anos e era um menino curioso - e a atual "Barcelona 16", a "do outro parto, de partir", composta quando Gabriel foi ao mundo, levando o coração dela dentro do mochilão. Ambas em linha pop disfarçam um sentimento materno de ser "deixada à beira do cais".

"Um primeiro beijo" merece lugar nas baladas de amor da MPB e fala do sentimento de um beijo imaginário cantado com extrema suavidade de deixar a platéia em suspenso. "Pane de maravilha", canção em que o Rio fala na primeira pessoa pelos versos de Paula e Fausto Fawcett, agitou. Do primeiro disco solo, de 1998, ela pinçou a bem humorada "E o mundo não se acabou", original de Carmen Miranda recriada por ela numa roupagem pop e interpretação "caliente".

"Tudo se perdeu", versão dela para a balada "Vicious world", do canadense Rufus Wainwright, tem letra inspirada que cita Maysa e "Amanhã é 23", canção do Kid, uma saída dela para evitar traduzir o original que falava em ter 23 anos - "dizem que pareço nova, mas 23 é demais". Interpretada com precisão, uma palavra chave neste trabalho solo da parte dela e da banda.

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Uma balada midtempo com boas frases da guitarra de Coringa conta a história de "Você me ganhou de presente", com o mote de "você não deu mole" que agradou a platéia. E Paula disse que se não fosse cantora seria advogada, e que já pensou até em fazer direito "depois de velha". "Eu gosto de estudar. Depois que a gente pára é que vê como é bom". Mas conforma-se (entre aspas) com seu ofício: "É difícil escrever para música. Letra não é um tratado sobre as coisas. É um recado simples, mas a idéia pode ser sofisticada, eu gosto de trabalhar, bordar as letras."

Finalmente "Vc me ganhou de presente", animada e dançante que Paula anunciou como próxima música de trabalho numa prensada do pessoal da gravadora Warner. Em outros tempos, a carreira comercial deste disco seria bem sucedida, mas nesses tempos bicudos sabe-se lá. Pelo menos não há pirataria de shows e, nesse item, Paula bota na rua um recital impecável, ao lado de Coringa,"gaúcho de Santo Antonio da Patrulha, se não falo isso, a mãe dele me mata" e de Jorge Ailton, no baixo. Manda bem o vocal feito no disco pelo co-autor Donavon Frankenreiter em "All over", Caio Fonseca se divide entre o Fender Rhodes, violão e um teclado, Jam da Silva colore as levadas com percussões e Adal Fonseca senta o pau na bateria, uma boa sacada de Paula, não levar o show inteiro num tom soft demais. Mesmo com levadas suaves dos instrumentos de harmonia, a bateria pulsa. Boa escolha.