Uma jovem rica e ingênua perde os pais num trágico acidente de carro é seduzida por um golpista profissional, que lhe rouba a fortuna e a abandona com um filho para criar.
Qualquer pessoa familiarizada com o universo teledramatúrgico identifica o tom folhetinesco da história. Na trama, estão envolvidos os protagonistas de Duas Caras Dalton Vigh (O Profeta) e a curitibana Marjorie Estiano (Páginas da Vida) respectivamente vilão e mocinha da nova história de Aguinaldo Silva (Senhora do Destino), que estréia hoje, às 21 horas, ocupando o lugar de Paraíso Tropical.
Apesar de ter terminado como o programa mais visto da tevê brasileira, a novela de Gilberto Braga, centrada nos conflitos entre as gêmeas Paula e Taís (ambas vividas por Alessandra Negrini), sofreu desde sua estréia com uma audiência mais baixa que a considerada ideal pela Rede Globo (45 pontos), algo que não acontecia desde o Esperança (2002).
Diante da missão de recuperar tal índice, a estratégia do autor de Duas Caras foi acrescentar discussões de cunho social à sua história, reservando atores e atrizes de forte apelo popular para liderar os núcleos em que esses assuntos serão desenvolvidos.
Inspirado pela "moral flexível" do brasileiro, cada vez mais acostumado a encarar a falta de ética como uma espécie de pré-requisito à sobrevivência social, o dramaturgo brinca com o hábito do telespectador de julgar rapidamente a qual "lado da força" pertence cada um dos personagens. E insere na nova trama caracteres ambíguos, sujeitos a trasformações e capazes de enganar o público à primeira vista.
Um exemplo é o galã Antonio Fagundes, que interpreta o ex-chefe de segurança Juvenal Antena. Após se revoltar com uma decisão injusta da empresa para a qual trabalha, Antena pede demissão e se junta aos operários na luta por seus direitos. Líder nato, o ex-segurança logo percebe as vantagens de ter a seu lado pessoas que o obedecem, ao invés de ter de cumprir ordens organiza uma invasão de um terreno, onde, aos poucos, as famílias dos operários formam a favela da Portelinha, da qual Antena torna-se chefe.
Para colocar em xeque a autoridade de Antena, entra em cena o humilde e bom-caráter Evilásio Caó, segundo papel do ator baiano Lázaro Ramos (Cobras & Lagartos) em telenovelas.
Empregado de confiança do líder da comunidade (Fagundes) e morador da favela, Evilásio passa a agir como mentor do povo da Portelinha. A simpatia pelo personagem deve crescer também entre os telespectadores quando Caó, num determinado momento, envolve-se romanticamente com Júlia (Débora Falabella), garota rica e branca, ao lado da qual o herói da trama irá enfrentar todo o tipo de preconceito, especialmente após o nascimento do filho do casal.
Mais realista e menos folhetinesca, Duas Caras, de acordo com Aguinaldo Silva, busca atingir um tom quase jornalístico, com o intuito de que a telenovela deixe de ser uma forma de entretenimento descompromissado, para passar a servir como instrumento de reflexão. A intenção é das melhores. Resta saber se o público está preparado para abrir mão dos efeitos especiais e tramas mirabolantes que vêm se tornando constantes na dramaturgia nacional.
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