A maior qualidade de Como Envelhecer é a de ser capaz de falar com inteligência sobre um tema que você pode torcer o nariz pensando: “Blargh, autoajuda!”.
Sim, o livro fica na maldita seção abarrotada de títulos desesperados para vender enquanto prometem soluções rápidas, simples e fáceis para todo tipo de problema. Mas a jornalista Anne Karpf não promete soluções assim. Aliás, licença para entregar o fim do livro – afinal, não estamos falando de seriados de tevê –, mas ela não diz como envelhecer.
Melhor: ela fala sobre várias possibilidades que aparecem à medida que você envelhece. E essa é uma grande sacada: mostrar que a velhice está forrada de oportunidades, que ela é um privilégio, “uma dimensão importante da vida”. Deveria ser óbvio, não? Mas tem o impacto de uma ideia radical. Se a vida tem momentos bons e ruins, viver bastante tempo é, antes de qualquer coisa, ter a chance de experimentar mais momentos bons e mais momentos ruins (eles fazem parte também, fazer o quê?).
Existem perdas, dificuldades e limitações ligadas à velhice – assim como existem restrições em outras fases da vida –, mas a parte ruim parece já receber atenção demais, enquanto a parte boa de viver bastante não interessa muito a ninguém. Viver, como lembra Anne Karpf, é envelhecer, “e ser anti-idade (como muitos produtos, cheios de orgulho, dizem ser) é o mesmo que ser antivida”.
A autora presta atenção em várias ideias correntes sobre a velhice e a juventude. Um bom exemplo: “As pessoas que intimidam as mais jovens com superficialidades sobre a época de colégio ser a mais feliz de suas vidas revelam mais sobre suas próprias vidas e sua triste falta de habilidade de mudar do que sobre o envelhecimento em si”. Genial.
Às vezes, o valor exagerado que se dá à juventude me parece inexplicável. Na adolescência, eu estava no outro extremo e idealizava a velhice (talvez porque minha juventude não foi grande coisa), mas Anne Karpf é bem mais sensata que eu, dizendo que crescemos cada um de um jeito – outra coisa que soa óbvia, mas o mundo resiste a certas obviedades. “Pessoas jovens podem ser sábios e pessoas velhas, idiotas, e vice-versa. (...) A maioria de nós é alternadamente sábio e idiota – na mesma semana, no mesmo dia, às vezes na mesma hora”, diz ela.
Anne Karpf. Coleção The School of Life. Tradução de Michele Gerhardt. Objetiva, 192 pp., R$ 26,90.
O livro lembra uma conferência TED (fundação cujo slogan é “ideias para passar adiante”) e chega perto de sugerir como envelhecer quando fala sobre a importância de “ser capaz de tolerar um pouco de tristeza e sofrimento pelas perdas necessárias”, algo a que você está sujeito em qualquer fase da vida. Chamam essa habilidade emocional de resiliência e ela precisa ser exercitada.
E gosto quando Karpf fala de desenvolver também a capacidade de amar pessoas, ideias e experiências. É uma boa sugestão e difícil pacas de colocar em prática. Quanto mais velho você fica, parece que precisa se esforçar mais para manter o interesse no que quer que seja.
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