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Os atores Leonardo Miggiorin e Elias Andreato, em Equus | Divulgação / Chris Ceneviva
Os atores Leonardo Miggiorin e Elias Andreato, em Equus| Foto: Divulgação / Chris Ceneviva

Um psiquiatra é uma espécie de detetive. Trata-se de um profissional que busca pistas (sintomas) que indiquem o que causou um determinado trauma ou comportamento estranho em um paciente. Exatamente como na cena de um crime, em que os indícios apontam para os culpados. No espetáculo Equus, apresentado na noite da última terça-feira (3) na Mostra Oficial do Festival de Curitiba, o caso investigado envolve um jovem de 20 anos que resolveu cegar alguns cavalos. Encenada no auditório do SESC da Esquina, a montagem acompanha o personagem Alan Strang (Leonardo Miggiorin), internado numa clínica para doentes mentais depois de agredir brutalmente os animais do estábulo em que trabalhava. Um renomado psiquiatra, Martin Dysart (Elias Andreato), é o responsável por tratar o jovem. O que mais o intriga, e ao público, é o motivo do ato.

Dirigida por Alexandre Reinecke, que no ano passado trouxe ao festival o espetáculo "Os 39 Degraus", a versão nacional do texto do dramaturgo Peter Shaffer começou com mais de vinte minutos de atraso. As reclamações da plateia curitibana se dissiparam assim que o personagem de Adreato entrou em cena. Com um monólogo magnético, o talentoso ator apresentou o caso retratado na peça. Algo difícil de entender num primeiro momento, ainda mais para quem desconhece a história, que virou filme nas mãos do cineasta Sidney Lumet, em 1977.

As angústias jogadas pelo psiquiatra logo nos primeiros minutos do espetáculo rapidamente se mostram ligadas não só ao paciente, mas à sua própria profissão. Afinal, o que lhe dá o direito de tratar um paciente se nem ele sabe ao certo o que está curando? As dúvidas só aumentam conforme o médico se envolve com Strang. Nas consultas, o jovem revela uma adoração, com elementos de descobertas sexuais, por equinos.

O fruto dessa estranha relação é o tratamento conturbado que o personagem recebeu da mãe, uma religiosa fervorosa, e do pai, um marxista ateu. Tal núcleo familiar é retratado como uma prisão pelo hábil cenário de André Cortez (que mistura o formato de cela com o de um estábulo). É possível perceber que a estrutura cênica da peça representa Strang aprisionado entre humanos, mas livre entre cavalos.

Com questionamentos sobre religião, liberdade sexual, extremismos políticos e a função da própria psiquiatria, é curioso imaginar que o texto de Shaffer seja mais conhecido atualmente pelas cenas de nudez. A fama vem de uma montagem de 2007 encenada na Broadway, que tinha o intérprete de Harry Potter no cinema, Daniel Radcliffe, na pele do protagonista.

De fato, Maggiori aparece nu em vários momentos do espetáculo. Isso não ofusca as polêmicas dos diálogos, muito menos o brilho do afiado elenco dirigido por Reinecke. Não é possível ignorar também que, no fundo, o que mais intriga na peça é o mistério envolvendo o ato violento praticado pelo paciente. No fim, a resolução do crime se mostra elementar, como diria Sherlock Holmes, o mais famoso dos detetives.

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