Meninas de minissaia, só de sutiã ou baby-doll, colegiais com maquiagem impecável, purpurina no corpo todo e até senhoras de respeito, carregando as namoradas a tiracolo, vão à loucura nos paralelepípedos de Antonina. Segunda-feira de Carnaval é sempre noite do Baile das Escandalosas. Todas essas meninas são, na verdade, estivadores, mecânicos, comerciantes e outros senhores que, fora do Carnaval, dificilmente estariam à vontade em vestidos e acessórios femininos.
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A tradição de mais de 40 anos de Antonina diz que, toda segunda-feira de Carnaval, é dia de homens se vestirem de mulher. Às 20h30, a folia começou com o Desfile das Escandalosas, uma competição para escolher a fantasia mais elaborada. Depois, foi a vez do baile público. Estimativa do secretário de Comunicação do município, José Luiz Velloso, era de que 50 mil pessoas participassem da festa desta segunda-feira (11).
O prêmio de melhor fantasia escandalosa deste ano foi, pela primeira vez, para o feirante curitibano Odorico Marquezine, vestido como noiva, de tiara e tudo. Ele compete há 28 anos. "Comprei esse vestido em um bazar para ajudar uma entidade social de Curitiba. Não achava que iria ganhar. Na hora que anunciaram que o primeiro lugar ia para a noiva, meu coração foi pra boca", disse, ainda animado com a premiação um troféu em forma de boneca Barbie, com a inscrição "Brilhei no Carnaval de Antonina. Ai, como eu sou bandida!".
Casado e pai de três filhos, Odorico conta que começou a competir de verdade no Desfile das Escandalosas há 14 anos. "Antes eu só usava uma roupa qualquer da namorada. Agora me produzo, faço mais certinho". Por baixo do vestido de noiva adornado de pedras e brilhos, Odorico vestia uma bermuda e chinelos, como a maioria dos homens que não foi de mulher.
Festa
O calor beirava o insuportável na lotada Avenida do Samba de Antonina. A banda Coração Brasil agitou o público com marchinhas e outras músicas próprias para o carnaval. Curtas e espaçadas pancadas de chuva refrescaram a multidão, que comemorava a cada bem-vindo chuvisco.
Famílias inteiras pulavam juntas. Uma delas é a de Thiago Barreto, portuário. Há cinco anos, ele foi para o baile vestido de enfermeira. Sua mulher, Juliane Dias, resolveu acompanhar. Com o tempo, mais e mais parentes entraram na brincadeira e hoje há quase 20 enfermeiras da mesma família que brincam o carnaval na avenida. Porém, a nova geração é rebelde. "Os mais novos não quiseram saber de enfermagem. São todos policiais", diz Juliane, mostrando os primos vestidos como agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Ela está grávida e garante que o descendente vai integrar o bloco.
Um grupo de bonecas Barbie, ainda dentro da embalagem, chamou a atenção pelas fantasias elaboradas. O estudante de Biologia de Paranaguá Endrigo Albini conta que todos os anos ele e os amigos participam do baile de Antonina. "É muito bom usar vestido. O vento nas pernas é incrível. Pena que não dá pra usar no resto do ano", lamenta.
Faltou verba
O atraso no projeto de captação de recursos elaborado pela gestão anterior da Prefeitura de Antonina fez com que a cidade não recebesse dinheiro para o carnaval até o começo da festa de ano. Para preservar a tradição do carnaval antoninense, a folia foi organizada com a ajuda e doações de voluntários, moradores e comerciantes da região.
Baile das Escandalosas agita Antonina