Jornada em forma de missão civilizatória
Erico Verissimo dizia resolver problemas dos textos enquanto caminhava. Eduardo Sganzerla, leitor do romancista gaúcho, utiliza o mesmo método. Todo dia, com sol ou chuva, ele caminha. Na esteira ou pelas ruas. Já participou de maratonas. E, durante esses deslocamentos, reflete, pensa e desata eventuais nós que atrapalham os textos que precisa entregar.
A trajetória de Eduardo Sganzerla está relacionada, acima de tudo, à escrita. Atualmente, aos 55 anos, ele tem se dedicado aos livros. Já escreveu oito. Está à frente de duas editoras, a Esplendor, hoje com 20 títulos que dizem respeito ao imaginário paranaense, e a Rosea Nigra, selo dedicado à ciência.
Sganzerla construiu reputação no meio jornalístico. Passou por vários veículos. De certa forma, pondera o escritor e editor, ele nunca deixou de fazer reportagens. Esse catarinense radicado em Curitiba acredita que a vida, ou a sorte, sempre foi generosa com ele, que jamais deixou de acreditar na necessidade do trabalho.
Eduardo era primo de Rogério Sganzerla (1946-2004), o cultuado diretor do cinema brasileiro, que se consagrou com o longa-metragem O Bandido da Luz Vermelha, de 1968. O pai de Rogério, Albino, já falecido, era irmão de Antonio Vitorino, o pai de Eduardo, que atualmente vive no Balneário Camboriú.
Na infância, os primos trabalharam na empresa da família, em Joaçaba (SC), onde ambos nasceram. Os dois eram próximos, mas a vida os separou. Rogério viajou e se estabeleceu em São Paulo. Em 1971, Eduardo veio para Curitiba, cidade relacionada com a sua trajetória pelo mundo.
Curiosidade: o motor
Sganzerla gesticula enquanto fala, e parece ter vontade de pegar, fisicamente, as ideias. Ele define-se, antes de tudo, como um curioso. Não tem vergonha de perguntar. Foi esse impulso em busca do conhecimento que o moveu até aqui, e fez com que ele começasse a ler, continuamente, no momento em que chegou à capital paranaense.
O desejo de ampliar os horizontes o conduziu ao curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O seu primeiro emprego, com carteira assinada, foi na Gazeta do Povo, entre 1.º de julho e 31 de outubro de 1975. Estreou na reportagem policial. Tinha 20 anos. Em 1977, estaria assinando matérias no Indústria & Comércio. De emprego a emprego, chegou ao fim da década de 1970, quando migrou para São Paulo.
Ele morou em três diferentes endereços na capital paulistana, mas nem lembra com precisão para quais empresas jornalísticas prestou serviço. Esteve na Editora Abril e no Diário de São Paulo. E, no dia 1.º de abril de 1980, foi contratado pela Folha de S. Paulo, onde teve a oportunidade de conviver, por quatro anos, com jornalistas que fazem parte da história da imprensa brasileira, como Paulo Francis, Bóris Casoy e Cláudio Abramo.
Retornou à Curitiba para ser correspondente da Folha, em um contexto em que outros jornais, como O Globo, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil também mantinham sucursais na capital paranaense. A cobertura das Diretas-Já é um capítulo que tem espaço privilegiado em sua memória afetiva. Mas essa temporada teria um fim em 1987.
Surpresas do acaso
Um outro ciclo se abriu para ele em 1988, quando assumiu o cargo de editor da Gazeta Mercantil em Curitiba. Os tempos de repórter chegavam ao fim, apesar de ele não dar trégua à eterna luta com as palavras.
Recebeu um convite para ser correspondente da Folha de S. Paulo em Buenos Aires, e disse não. Afinal, estava começando a elaborar o enredo daquele que seria o seu primeiro romance, Caminhos Que Levam para o Norte, publicado em 2001, e que acaba de ganhar uma segunda edição.
A longa narrativa ficcional, com 544 páginas, mostra a trajetória de uma família e ao mesmo tempo traça um painel do Brasil da segunda metade do século 20. Há um roteiro baseado no romance, e Sganzerla não esconde de ninguém que gostaria de ver o seu livro transposto para o cinema.
Os caminhos da realidade o levaram a São José dos Campos (SP) e Salvador (BA) para chefiar escritórios da Gazeta Mercantil; e esses mesmos trilhos o trouxeram, em 2002, para Curitiba, onde ele gosta de viver, caminhar e descobrir novidades, uma rua ou mesmo uma casa antiga, em meio ao tique-taque cotidiano.
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