O Palácio de Cristal, ginásio de esportes do Clube Círculo Militar do Paraná, estava lotado e fremindo naquela noite de 24 de agosto de 1985, ao vigoroso som da Nova Banda. O grupo era formado pelos músicos Ricardo Cristaldi (teclados), Zé Luís (sax e flauta), Tavinho Fialho (baixo), Toni Costa (guitarra), Marçal (percussão) e Marcelo Costa (bateria), que acompanhavam Caetano Veloso no show Velô, espetáculo construído a partir do repertório do álbum homônimo, lançado no ano anterior. O sexteto já havia participado da gravação do disco, que rendeu ao compositor baiano sucessos como as pulsantes "Podres Poderes", "O Quereres" e "Língua".
A certa altura da apresentação, que graças às particularidades do espaço, menos formal do que o vizinho Guairão, se transformara em uma grande pista de dança, Sentindo-se em casa, Caetano chamou ao palco um velho amigo: Paulo Leminski, que fazia aniversário naquele dia. Em 1981, no LP Outras Palavras, o filho de dona Canô havia gravado "Verdura", canção com letra e música do poeta curitibano. Os versos mais conhecidos dizem: "De repente/ vendi meus filhos/ a uma família americana/ eles têm carro/ eles têm grana/ eles têm casa/ a grama é bacana".
E foi justamente para cantar/recitar "Verdura", que Leminski, compositor bissexto mas um apaixonado por música, juntou-se a Caetano e, inebriado com o suingue e a energia da Nova Banda, não deixou mais o palco do Palácio de Cristal, emocionado com a homenagem recebida, segundo relata sua filha mais velha, Áurea, que tinha 14 anos e acompanhava os pais. Ouviu o baiano saudar, entre aplausos e vaias, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, que já havia sido, àquela altura, prefeito de Curitiba por duas vezes. Também dançou, cantou e pulou como se aquela noite fosse a última. Bem ao estilo Leminski.
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