Leminski lutava judô, falava latim, dava aulas, biografou santos e homens. Fez histórias em quadrinhos e escreveu contos, poemas, haicais, novelas e ensaios mil. Pioneiro do grafite e arte de rua, foi colunista de jornal e tevê. Fazia "chover no piquenique". Tinha o tirocínio do grande publicitário: "A imobiliária Galvão acha fácil o imóvel que você acha difícil".
Fosse pouco, também foi compositor de centenas de canções. Músicas em que criou não apenas as letras, mas também melodias famosas, como a de "Mudança de Estação" (1981), sucesso de A Cor do Som: "O rio tá raso/ Estrela fraca, sem razão".
Foram dezenas de parcerias, cada uma com uma cara. Premonitória com o irmão Pedro ("Oração de um Suicida"), laudatória com Marinho Galera ("Gracias, Graciano"), da paz com Celso Pirata ("Pássaro de Louça").
Com Moraes Moreira ("Promessas Demais") saiu na trilha da novela (Paraíso, de 1982). Com Guilherme Arantes, fez um disco inteiro, Pirlimpimpim 2, de encomenda para um musical da Rede Globo.
"Quando me chamaram para a continuação, quis fazer algo mais criativo e não repetir a fórmula do primeiro disco. Consegui convencer os caras a me deixarem trabalhar com o Leminski", lembra Arantes.
Na época, 1983, os dois ficaram amigos em São Paulo. Filhos pequenos e música eram os pontos de união. A tabela musical fluía fácil. "Ele tinha um brainstorm muito livre, muito solto e muito, mas muito rápido. Esta faísca é a marca dele. Você mandava, ele rebatia de primeira", recorda.
"Tenho impressão de que nossas músicas ficarão, principalmente "Xixi nas Estrelas", que fez muito sucesso e ainda faz", avalia o cantor. Ele conta que quando trabalhou com Leminski, o poeta já era um compositor "escolado".
"O texto dele era ritmado e dava recados sucintos que funcionam bem no espaço exíguo de uma letr a. Com pouca coisa, ele dizia muito. E era um cara muito doce. Tenho muita saudade dele."
Grande parte dessa experiência surgiu da vasta parceria com Ivo Rodrigues (1949-2010), que rendeu dezenas (centenas, talvez) de músicas imortais, como "Não Posso Ver", "Se Houver Céu" e o reggae "Sou Legal". O poeta polaco, aliás, gostava muito do gênero jamaicano, como lembra o parceiro Edivaldo Santana.
"Ele gostava da minha levada reggae e pediu para eu ensinar para ele", lembra. "Mas não dava muito certo, um polaco tocando suingue de negão (risos). O negócio dele eram as letras, o texto era maravilhoso", conta.
Músico da vanguarda paulistana, Santana escreveu canções com Leminski, como "O Deus" e "Hoje Tá Tão Bonito". "Ele foi o poeta contemporâneo mais interessante, suas letras simples, diretas e objetivas mudaram a minha trajetória na música."
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