Com um lugar assegurado entre as estrelas da Música Popular Brasileira (MPB), o cantor e compositor cearense Raimundo Fagner é um dos artistas engajados na discussão para reduzir os impostos dos CDs e DVDs. Preocupado com a queda nas vendas dos discos, Fagner diz que é preciso achar um ponto de equilíbrio para que o "mercado da música não naufragar", devido à ameaça dos CDs piratas e dos downloads gratuitos pela internet.
Autor de sucessos como "Borbulhas de Amor", "Revelação", "Canteiros" entre outros, Fagner comemora este ano 35 anos de carreira com 39 discos e 4 DVDs lançados desde o início da década de 1970, incluindo coletâneas e discos em parceria com outros artistas. Ele lamenta hoje a falta de bons novos cantores, apesar do surgimento de várias cantoras.
Avesso à Internet e em processo de gravação de um novo disco, Fagner chega à capital paranaense para um novo show, nesta sexta-feira (31), depois de uma lacuna de oito anos. O músico está viajando o Brasil para o lançamento do DVD "Ao Vivo", gravado em 2000 no Centro Dragão do Mar, em Fortaleza (CE) e se apresenta em Curitiba no Teatro Guaíra.
Confira a entrevista com o músico:
Gazeta do Povo - Por que demorou tanto tempo para o DVD ser lançado, já que foi gravado durante um show em 2000 em Fortaleza (CE)?
Fagner - O DVD demorou a sair porque só descobri as filmagens no final de 2007. Se soubesse antes teria lançado junto com o CD "Ao Vivo" que lancei na época. Foi um vacilo. Nós não nos programamos para gravar o DVD e o CD vendeu muito bem, quase 1 milhão de cópias. Só no ano passado a pessoa que filmou, Rosemberg Cariry, um cineasta do Ceará, me falou que tinha essas imagens. Ele guardou em segredo por todos esses anos. Como foi um show muito marcante e tinha boas imagens resolvi lançar, também para compor o acervo da minha obra.
Gazeta do Povo - Conforme a produção local do show, você ficou oito anos sem se apresentar em Curitiba. Ficou este tempo longe dos palcos?
Fagner Não tinha feito esta conta. O tempo passa rápido e a gente nem percebe, mas nunca parei. Minha agenda é cheia. Faço muitos shows populares, promovido por prefeituras para o povão. É mais cansativo do que um show em teatro como o Guaíra que é uma ótima casa, um local bom de se ouvir música, permite um show mais apurado com um público mais sofisticado. Nos shows populares a gente tem mais contato com o público, o repertório é mais popular e procuramos fazer um show mais ritmado, para o povo dançar.
Gazeta do Povo Este novo DVD traz vários sucessos da sua carreira. Você tem trabalhado para lançar algum trabalho de inéditas?
Fagner Estou sempre compondo sozinho e com parceiros como Zeca Baleiro, Chico César e os mais antigos como Fausto Nilo e Paulo César Pinheiro. Já comecei a gravar um novo disco mas tive que parar por conta do lançamento do DVD. Acredito que até dezembro ou janeiro (de 2009) termino de gravar.
Gazeta do Povo A venda de CDs piratas e os downloads gratuitos pela internet diminuiu a venda de seus discos?
Fagner - Caiu total, não sei te precisar números, mas em 2000 conseguia vender quase 1 milhão de cópias, hoje não. A venda de CDs e DVDs piratas estão prejudicando o mercado da música. É preciso achar um ponto para este mercado não naufragar. Como os livros são isentos de impostos, a música também merece isso porque vende, é um mercado promissor.
Gazeta do Povo Você é um dos artistas consagrados da MPB que está engajado na luta para aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que concede imunidade tributária para CDs e DVDs. Como está este processo de discussão?
Fagner O processo está muito bem avançado politicamente. Há cerca de duas semanas teve um congresso em Canela (RS) para discutir o assunto. Contamos com assessoria de advogados e políticos, por isso acredito que talvez até o final do ano possamos ter novidades nesta área.
Gazeta do Povo O que tem dificultado a discussão em torno do assunto?
Fagner A principal resistência é da Zona Franca de Manaus, maior fabricante de CD virgem. Enquanto a venda de CDs e DVDs decresceu a de CD virgem aumentou. É a indústria que alimenta a pirataria.
Gazeta do Povo - Você acha que os artistas têm que se envolver em questões políticas para melhorar sua área de atuação?
Fagner Acho importante. Eu conheço muitos políticos e estou sempre falando da minha área. Todos os artistas devem pressionar seus políticos para melhorar. Não é só a MPB é a música popular que vende. É preciso reduzir os preços para que o povo possa comprar.
Gazeta do Povo - Quais artistas estão envolvidos diretamente nesta discussão?
Fagner - Sandra de Sá, Leoni, Frejat, o pessoal do Kid Abelha e o Carlos Andrade, que representa as gravadoras independentes, estão sempre participando das reuniões.
Gazeta do Povo - Você costuma usar a Internet para pesquisar novas músicas, novos artistas?
Fagner - Nem navego na Internet. Ainda resisto, por causa do tempo mesmo. Quem faz isso pra mim é minha secretária, o pessoal que trabalha comigo. Mas agora estou percebendo que perco algumas oportunidades de me comunicar com outras pessoas por não estar usando a Internet.
Gazeta do Povo Quem você vê hoje como um novo talento da música brasileira?
Fagner Eu gosto do Zeca Baleiro, Chico César, pessoas com quem já trabalhei. Jorge Vercilo também é um novo nome que surgiu. Na verdade vejo que surgiu muita mulher cantora, mas tem pouco cantor. Acho que está muito em falta, não só pela comparação com o número de novas cantoras, mas acho que precisa melhorar a qualidade vocal dos novos cantores. Não tem nenhuma grande voz masculina.
Gazeta do Povo O repertório do show que será apresentado no Teatro Guaíra é baseado no DVD?
Fagner Não somente as músicas do DVD. Faço um apanhado de toda carreira. O público vai para um show para ver o artista que conhece, então tem que tocar de tudo um pouco. É difícil selecionar, mas a gente já tem um esquema com poucos erros. Depende muito da "sacação" do público também. Às vezes, incluímos músicas na última hora. Em média são cerca de 20 músicas.
Prepare-se para o show de Fagner, dia 31, no Teatro Guaíra
Alcolumbre e Motta assumem comando do Congresso com discurso alinhado a antecessores
Hugo Motta defende que emendas recuperam autonomia do Parlamento contra “toma lá, dá cá” do governo
Testamos o viés do DeepSeek e de outras seis IAs com as mesmas perguntas; veja respostas
Cumprir meta fiscal não basta para baixar os juros
Deixe sua opinião