Na entrevista coletiva de apresentação do CD "Falando de amor - Famílias Caymmi e Jobim cantam Antonio Carlos Jobim" (Sony/BMG), nesta quarta-feira, Nana Caymmi definiu o projeto de um jeito bem seu:
- É levinho, fundo musical de motel - disse, comparando com outros discos mais dramáticos que ela já fez e, garante, fará. - Não é para ouvir e sair chorando.
A imagem é boa - apesar de, claro, exagerada. Nana, porém, acerta ao falar que o CD - gravado ao lado de seus irmãos Dori e Danilo e do filho e do neto de Tom, respectivamente Paulo e Daniel Jobim - é um tanto "baixos teores". Muito por ser um tributo radicalmente reverente à estética de Tom, com atmosfera jobiniana de ponta a ponta e participação de instrumentistas que tocaram com o maestro (o baterista Paulo Braga e o próprio Danilo, flautista de sua banda por 10 anos). É um disco belo, portanto, e de uma beleza clássica e classuda, sob o comando do produtor José Milton. Por outro lado, os arranjos à Jobim na maior parte das vezes pouco acrescentam ao que o próprio homenageado fez.
É, porém, um CD de canções de Jobim, tratadas com o respeito e a qualidade que merecem, o que não é pouco. O repertório, de 16 faixas, atravessa bem suas diversas fases, passando pelas famosíssimas "Samba do avião" e "Desafinado" e pelas pouco conhecidas "Esperança perdida" e "Para não sofrer (velho riacho)".
- Mamãe não conhecia "Esperança perdida" - contou Nana, falando da parceria de Jobim e Billy Blanco de 1965, pouquíssimo gravada. - Brinquei que era nova, tinha sido psicografada.
Duas letras inéditas para melodias de Jobim dão maior brilho ao projeto. Uma delas é "Bonita demais", versos de Vinicius recentemente encontrados para "Bonita", que só tinha letra em inglês. Cantada por Daniel Jobim, a canção está na trilha sonora da novela "Belíssima". A outra é "Canção para Michelle", versão com letra de Ronaldo Bastos para "Chanson pour Michelle", feita para a minissérie "O tempo e o vento". Linda, numa gravação apenas com Nana cantando acompanhada do piano de Daniel Jobim, a música é o ápice do CD. Valeu a pena o esforço da cantora para ver a música pronta.
- Torturei Ronaldo Bastos por 16 anos, pedindo para ele fazer a letra dessa música. Ela chegar nesse momento foi maravilhoso.
Se os arranjos estão perfeitamente integrados ao que já conhecemos de Jobim, as vozes trazem maior carga de novidade. Como na estranheza positiva de Dori em "Anos dourados" ou no casamento dos timbres graves de Dori e Paulo em "Para não sofrer (Velho riacho)". Nana está em casa no universo dos samba-canções "Foi a noite" (dueto com Paulo), "As praias desertas" e "Esperança perdida" (o arranjo enxuto, apenas com violão e baixo, abre caminho para a cantora fazer o que melhor sabe). A voz doce de Danilo combina com perfeição com o romantismo direto de "Eu sei que vou te amar". Impressiona também a semelhança do timbre de Daniel com o de seu avô, em "Bonita demais" e "Corcovado".
- Sempre cantei assim. Só percebi que era parecido depois que ouvi minha voz gravada - explicou Daniel.
Danilo acredita que a semelhança não é simplesmente de timbre:
- Na verdade, é a maneira bonita como ele se aproxima da música, com uma sensibilidade próxima a de Tom.
A idéia de fazer "Falando de amor" foi de Nana, que há um bom tempo queria homenagear Jobim. Em nenhum momento, porém, ela pensou no clássico disco "Caymmi visita Tom" como uma referência.
- Não tem mais o Tom aqui, não faria sentido. E meu pai está com a voz troncha - completou, rindo.
O papel da cantora como comandante do disco fica claro na brincadeira de Daniel:
- Perguntei: "posso gravar 'Águas de março'?". Ela disse: "Não". "Tá, então posso gravar 'Bonita'?". Pode. E gravei essa - contou, observado por Nana com uma cara de "não foi bem assim".
O show de lançamento ainda não tem data marcada. Nana acredita que tem de ser logo. Quando Danilo falou na possibilidade de ser em março, Nana reagiu:
- Eu vou sair cantando Tom logo, com eles ou sem eles.
Divergência normal em família(s), nada grave. Como mostram em "Falando de amor", eles se entendem.
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