Um dos mais importantes festivais de curtas-metragens do mundo, Vila do Conde completa 20 anos esta semana. Mais que um evento eurocêntrico, tem por tradição revelar o que de mais contemporâneo e inovador tem sido produzido no mundo quando o assunto são filmes de curta duração. "Mas não é só isso, Vila do Conde valoriza o cinema como um todo. Há mostras, sessões e debates de curtas de 40, 50 minutos, concertos, oficinas e até mostras de longas dedicados a diretores como o francês Olivier Assayas, que ganha retrospectiva neste ano", explica Helvécio Marins, diretor brasileiro que também terá uma retrospectiva de seus trabalhos nesta edição do festival.

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Os diretores também convidaram Marins para dirigir um dos filmes em homenagem ao aniversário do evento. Ao lado do brasileiro, que dirigiu o longa "Girimunho", estão mestres do cinema atual como o americano Thom Andersen, de "Los Angeles Plays Itself", e do bielo-russo Sergei Loznitsa, diretor de "Minha Felicidade" e "In the Fog", vencedor do prêmio da crítica no último Festival de Cannes. "É uma seleção que destaca o trabalho destes quatro realizadores entre os mais relevantes no cenário contemporâneo internacional e que mantêm uma forte relação com o festival. É muito gratificante ver que são diretores que já foram premiados em outras edições e cujo trabalho ganha cada vez mais projeção", comenta Dario Oliveira, um dos fundadores de Vila do Conde.

O curta que Marins dirigiu a pedido do festival se chama "O Canto do Rocha" e mistura performance, documentário e ficção para contar a história de Alfredo Rocha, um ex-cantor de fado, ex-traficante, ex-presidiário (condenado a 14 anos), faixa preta de caratê e atualmente dono de um café na rua de São Victor, na cidade do Porto. "O processo de descoberta do personagem foi muito rico. O Rocha tem uma história de vida incrível. Imagine que, aos 16 anos, sua casa foi invadida pela polícia, que cometeu um engano, em um tempo em que a ditadura de Salazar estava muito rígida. Conclusão: A mãe dele foi agredida e ele, que a defendeu, viu-se com o olho direito na mão. Pense no trauma para um garoto, que passou a ser rejeitado e se tornou traficante e agiota para se vingar. O Porto é tão rico de personagens como o Rocha, ainda que ele seja uma figura única e especial, que o maior prazer de realizar este filme foi o processo de descobertas e filmagens", conta Marins.

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Com curtas premiados em todo o mundo, Marins é apontado como um dos jovens expoentes do novo cinema brasileiro. Agora leva seu primeiro longa, "Girimunho" (dirigido em parceria com Clarissa Campolina) para as salas europeias. O longa já estreou na Espanha, na Alemanha, e chega às salas francesas em agosto, depois de estrear no Festival de Veneza, em 2011, e passar por importantes festivais. Em Vila do Conde, além de "O Canto do Rocha" e "Girimunho", serão exibidos "Nascente". "Trecho", "Nem marcha nem chouta", "2 Homens" e a vídeo instalação "Alma Nua".