A expectativa era muita, mas houve apenas fracos aplausos na apresentação à imprensa de "My blueberry nights", a produção de Wong Kar Wai que abriu o 60º Festival de Cannes com a tradicional cerimônia de gala.
O novo filme do cineasta de Hong Kong trata das distâncias sentimentais e físicas. Era aguardado ansiosamente em Cannes, onde Wong tenta ganhar a Palma de Ouro pela quarta vez.A decepção, possivelmente, foi conseqüência de uma aposta excessiva do público e de intelectuais no filme de Wong. Isso porque o cineasta vinha sendo considerado um dos melhores dos últimos anos.Ele já havia conquistado Cannes com "Amor à flor da pele" (2000), recebido o prêmio de melhor diretor com "Felizes juntos" há dez anos, além de ter causado polêmica com "2046: Os segredos do amor" (2004).
"My blueberry nights" apresentou como atrativo a estréia da musa do jazz e do pop Norah Jones, ao lado de outros grandes nomes como Natalie Portman, Rachel Weisz, David Strathairn e Jude Law.
Além disso, o filme traz uma excepcional fotografia, repleta de jogos de cor e sombras, obra de Darius Khondji. Ele foi diretor de fotografia de "Delicatessen" (1991), e é um dos mais renomados do momento. A trilha sonora de "My blueberry nights" foi assinada por Ry Cooder ("Paris, Texas").
No entanto, ficou clara a distância entre o mais novo filme de Wong e "Chongqing Express" (1994) e "2046". A história de amor de "My blueberry nights" é considerada muito evidente e sem paixão, o contrário de "Amor à flor da pele" e "Felizes juntos".
A ambientação, assim como a magistral composição de planos, continuam sendo os pontos fortes da obra do diretor de Hong Kong. Entretanto, nesse filme, parecem não acrescentar nada de novo, o que pode ser a primeira mostra de fraqueza da filmografia de Wong.Os diálogos soam excessivamente graves em um filme estruturalmente simples e de metáforas muito evidentes. O personagem de Norah Jones, após uma ruptura sentimental, empreende uma viagem em que conhece pessoas e histórias que marcarão sua vida.
No entanto, apesar de a cantora realizar um excelente trabalho de estréia como atriz, as histórias secundárias acabam se impondo com força à principal. Um motivo, talvez, seja a presença de atores como Natalie Portman, Strathairn e Rachel Weiz, que acabaram se destacando em detrimento da trama.
O resultado geral é um filme apreciável, mas de um Wong menor, longe de seus auges.
"Disseram-me que era um erro abrir o festival", reconheceu com cautela o cineasta na entrevista coletiva que concedeu após a apresentação. No evento, Wong compareceu acompanhado por Norah Jones e Jude Law.
Também admitiu que "o principal desafio [do filme] é ser falado em inglês", uma língua com que o diretor diz não se sentir confortável. Isso pode explicar o tom artificial de boa parte dos diálogos.
Segundo a cantora de jazz, por outro lado, "é impressionante ver o que ele [Wong] captou da paisagem americana". De acordo com Wong, o filme "fala de distâncias, não, de viagens".
Jude Law e Norah Jones afirmaram que o diretor dá muita liberdade aos atores e é muito inventivo.
Sobre a estréia como atriz, ela disse: "Foi Wong que veio me procurar de improviso. Respondi-lhe que estava de viagem como cantora e que não tinha assistido a seus filmes. Depois, vi 'Amor à flor da pele' e me pareceu o filme mais maravilhoso que eu já tinha visto".
Norah Jones já ganhou oito prêmios Grammy por seu disco "Come away with me", de quatro anos atrás.
"Quando se escuta a sua voz, só sua voz, já se pode escutar uma história; por isso, gosto dela; por isso, quis fazer um filme com ela", disse Wong.
Se o júri da Palma de Ouro - no qual está Maggie Cheung, atriz que trabalha freqüentemente com Wong - viu o filme da mesma forma como a crítica e a imprensa que estiveram na sala Lumière do Palácio dos Festivais, dificilmente "My blueberry nights" levará o prêmio.
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