Você trabalhou em novelas na Record, Tupi e Globo. Hoje, 40 anos depois da estréia na tevê, como você percebe a evolução do gênero? Era diferente. Os elencos eram bem menores, nós trabalhávamos dentro de estúdio porque as câmeras eram pesadas para fazer externa. Hoje, a gente vê novelas que começam em Cancún, Londres. A Globo, há algum tempo, vende seu produto para cerca de cem países, quer dizer, a telenovela adquiriu grandiosidade porque tudo ficou inevitavelmente globalizado com a internet, os satélites. É uma evolução natural. Talvez a telenovela fosse mais rica de conteúdo, mas não havia essa possibilidade de variação de hoje, como ocorreu na minissérie Amazônia, que mostrou o Acre, o Amazonas, para contar uma história linda. Eu vejo a televisão em muitos momentos como um grande teatro popular.

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Ano a ano, as telenovelas têm audiência cada vez menor. A novela precisa mudar para enfrentar esta crise? Hoje as pessoas têm mais opções. É claro que, às vezes, os autores erram ao escolher assuntos que não caem no gosto do público. Nem tudo é bem-sucedido. Mas, temos que considerar que hoje as pessoas são ocupadas, estudam à noite. E há a TV a cabo, a internet, grandes filmes norte-americanos e europeus. As coisas vão se equivalendo, mas acho que a telenovela não termina nunca.

O Brasil e outros países em desenvolvimento vivem uma situação caótica, de desesperança. O público tem tantas opções e necessidades que não pode ver tudo. Não é como em Selva de Pedra (1972), que em determinado capítulo manteve 100% de aparelhos ligados. Hoje, talvez desse a metade. É um mundo em movimento e conturbado, e a situação que a televisão vive, caótica em muitos momentos, é o reflexo de uma sociedade.

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E o teatro também sofre? Mais ainda porque não vende anúncios. Como você vai pagar um aluguel de um teatro que custa R$ 6 mil se na bilheteria você não arrecadou esse valor? Ou se trabalhou com meia-entrada e o governo não subsidiou? É por isso, inclusive, que estou encerrando a temporada de O Último Bolero em Curitiba – um centro importante de teatro. Não há mais condição de viajar sem patrocínio. Mas, de um modo geral, o teatro sempre vai sobreviver porque sempre estaremos fazendo teatro alternativo nas nossas cidades.

A peça é totalmente independente? Sim. Há mais de um ano consegui aprovar a Lei Rouanet, mas não consigo fazer captação. Imagino que as coisas tenham um endereço certo. Não adianta essa história de ser um nome de televisão, você não consegue cortesia das companhias aéreas, elas dão só para outras pessoas. Existem núcleos em todo o lugar, que sempre são mais beneficiados. A vida é assim, a gente não pode lutar muito contra isso. Nessa peça mesmo, muitas vezes os técnicos, os atores são sacrificados. Mas pelo menos a gente está fazendo o que gosta. Só que chega um momento em que não dá para continuar porque todo mundo tem suas contas para serem pagas (AV).

Serviço: O Último Bolero. Teatro Fernanda Montenegro (R. Coronel Dulcídio, 517 – Shopping Novo Batel), (41) 3224-4986. Dias 20 e 21, às 21 horas, e dia 22, às 19 horas. Ingresso a R$ 40 e R$ 20 (meia).