Opinião - Marcio Renato dos Santos, repórter da Gazeta do Povo
O impasse depois do sucesso
Dizem que fazer sucesso não é difícil. Difícil é sobreviver à glória. Isso diz respeito à situação do escritor cearense radicado no Recife Ronaldo Correia de Brito.
A vida de Ronaldo Correia de Brito mudou de maneira irreversível depois que a editora Alfaguara publicou, em 2008, Galileia, romance que ele escreveu durante oito anos. Ano passado, o livro venceu o Prêmio São Paulo de Literatura, o que representou R$ 200 mil na conta bancária do escritor e muita visibilidade.
Ele foi um dos convidados da programação oficial da 8.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), realizada entre 4 e 8 de agosto. "No final, tive uma longa fila de autógrafos, até parecia um convidado internacional", conta.
Desde que venceu o Prêmio SP, ele passou a ser atração de eventos literários em todo o Brasil.
Brito tem reclamado dos efeitos colaterais da literatura. "Quanto às dores nas costas, o Ministério da Saude adverte: escrever as provoca, além de irritação nos olhos", diz.
O escritor de 59 anos, que gosta de rotina e cultiva hábitos, talvez tenha se lesionado, mesmo minimamente, por que acabou de finalizar um novo livro, Retratos Imorais. São 22 contos, alguns novos e outros antigos, esboçados há mais de 40 anos.
Brito conta que Plínio Martins, editor da Ateliê Editorial, pediu a ele os contos "refugados pelos outros editores, a minha gaveta de papeis mofados". Mas, depois do encontro, o escritor diz ter traído Martins. "Comecei a reescrever os contos mais antigos. Estou habituado a ser curador de exposições, já fiz duas curadorias para o Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba. Pensando como curador, criei um livro de imagens leves e fortes", comenta.
Brito, que é médico, continua com endereço no Recife. Mudou de uma casa para um apartamento. Mas, profissionalmente falando, trabalha no mesmo hospital, vê os seus pacientes, volta para o apartamento e escreve.
Sempre pensa em desistir da literatura.
"Gogol ateou fogo duas vezes em Almas Mortas. Kafka pediu que seus livros fossem destruídos, quando estava para morrer. Sou acometido de desânimo, com muita frequência", confessa.
O escritor Raimundo Carrero é um interlocutor que costuma ouvir os lamentos e faz com que Brito continue a escrever.
"Sempre achei que já havia livros em excesso", finaliza.
Serviço:
Retratos Imorais, de Ronaldo Correia de Brito. Alfaguara, 182 págs., R$ 33,90. Contos.
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