“Percebi que minhas obsessões continuam as mesmas”, diz Brito, a respeito dos temas de alguns contos de seu livro| Foto: Bárbara Wagner/Divulgação.

Opinião - Marcio Renato dos Santos, repórter da Gazeta do Povo

O impasse depois do sucesso

Dizem que fazer sucesso não é difícil. Difícil é sobreviver à glória. Isso diz respeito à situação do escritor cearense radicado no Recife Ronaldo Correia de Brito.

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A vida de Ronaldo Correia de Brito mudou de maneira irreversível de­­­pois que a editora Alfaguara publicou, em 2008, Galileia, ro­­­man­­­ce que ele escreveu durante oito anos. Ano passado, o livro ven­­­­­­­ceu o Prêmio São Paulo de Literatura, o que representou R$ 200 mil na conta bancária do escritor e muita visibilidade.

Ele foi um dos convidados da programação oficial da 8.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), realizada entre 4 e 8 de agosto. "No final, tive uma longa fila de autógrafos, até parecia um convidado internacional", conta.

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Desde que venceu o Prêmio SP, ele passou a ser atração de eventos literários em todo o Brasil.

Brito tem reclamado dos efeitos colaterais da literatura. "Quanto às dores nas costas, o Ministério da Saude adverte: escrever as provoca, além de irritação nos olhos", diz.

O escritor de 59 anos, que gosta de rotina e cultiva hábitos, talvez tenha se lesionado, mesmo minimamente, por que acabou de finalizar um novo livro, Retratos Imorais. São 22 contos, alguns novos e outros antigos, esboçados há mais de 40 anos.

Brito conta que Plínio Martins, editor da Ateliê Editorial, pediu a ele os contos "refugados pelos ou­­­tros editores, a minha gaveta de pa­­­peis mofados". Mas, depois do encontro, o escritor diz ter traído Martins. "Comecei a reescrever os contos mais antigos. Estou habituado a ser curador de exposições, já fiz duas curadorias para o Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba. Pensando como cu­­­­rador, criei um li­­­­vro de imagens leves e fortes", comenta.

Brito, que é médico, continua com endereço no Recife. Mudou de uma casa para um apartamento. Mas, profissionalmente falando, trabalha no mesmo hospital, vê os seus pacientes, volta para o apartamento e escreve.

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Sempre pensa em desistir da literatura.

"Gogol ateou fogo duas vezes em Almas Mortas. Kafka pediu que seus livros fossem destruídos, quando estava para morrer. Sou aco­­­metido de desânimo, com muita frequência", confessa.

O escritor Raimundo Carrero é um interlocutor que costuma ouvir os lamentos e faz com que Brito continue a escrever.

"Sempre achei que já havia livros em excesso", finaliza.

Serviço:

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Retratos Imorais, de Ronaldo Correia de Brito. Alfaguara, 182 págs., R$ 33,90. Contos.