Depois da confusão envolvendo o ator e produtor Claudio Botelho, numa apresentação da peça “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos”, em Belo Horizonte, o compositor carioca resolveu retirar a autorização para Botelho usar suas músicas “nesse ou em qualquer outro espetáculo”. A informação é da assessoria de imprensa de Chico.
Procurado pela reportagem, Claudio Botelho disse que ficou sabendo da notícia pela imprensa, embora tenha conversado com Vinicius França, empresário do compositor.
“Continuo fã de Chico Buarque, ele é o maior artista da minha geração. Só fico sentido por não terem me ouvido”, diz Botelho.
“Fico um pouco chocado com o cerceamento da minha liberdade, vindo de um artista, que recebe ódio da internet direto. Alguém que sofreu tanto com a censura, com a ditadura, agora tem uma atitude diante de uma situação bastante similar, mas de um lado diferente”, acrescenta. “Não estou reclamando, estou sentido de não ter tido a chance de me explicar. Já estou sendo censurado pelo autor [Chico Buarque].”
O tumulto aconteceu neste sábado (19) quando Botelho incluiu um “caco” (improviso) no meio da peça, que passa pelas canções dos musicais criados por Chico (“Roda Viva”, de 1967, “Calabar”, de 1973, “Gota D’Água”, de 1975, e “Ópera do Malandro”, de 1978), além de outras feitas para outras montagens teatrais, para cinema e TV.
A cena polêmica mostrava o grupo teatral chegando a uma cidadezinha. “Era a noite do último capítulo da novela das oito. Era também a noite em que um ladrão ex-presidente talvez tenha sido preso. Ou uma presidente ladra recebeu o impeachment?”, teria dito Botelho, que atua no musical como o dono de uma companhia teatral.
A plateia, então, começou a gritar o nome de Chico, artista historicamente alinhado ao PT, e repetir a frase “não vai ter golpe”. O espetáculo não pôde continuar.
Um áudio que publicado na internet neste domingo (20) mostra Botelho indignado no camarim, discutindo com a atriz Soraya Ravenle, que tenta acalmá-lo.
Na publicação, o ator é acusado de racista porque teria dito: “Essa gente chega e peita um ator que está em cena. Um ator que está em cena é um rei, não pode ser peitado. Não pode ser peitado por um negro, por um filho da puta que está na plateia. Eu estava fazendo uma ficção.”
“Quis dizer ‘nêgo’, a gíria, no sentido de “alguém”, não é uma questão racial. Não sou racista”, diz o ator, que não sabe quem gravou o áudio, mas diz que está tentando, na Justiça, tirá-lo do ar.
A proibição de Chico vale para espetáculos futuros, segundo a assessoria do autor. O filme “Os Saltimbancos Trapalhões - Rumo a Hollywood”, com direção musical de Botelho, previsto para o ano que vem, segue de pé.
Segundo a assessoria de Chico Buarque, o compositor “reagiu com espanto e muito desagrado à postura de Claudio”.
Botelho suspendeu sua conta do Facebook depois do ocorrido.
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