Todo sábado, desde o final de janeiro, o comediante Louis C. K. tem mandado e-mail aos seus fãs para anunciar cada episódio novo de seu programa, “Horace and Pete”. O desta semana veio com um “P.S.” longo que continha um pedido aos fãs.
“Por favor, parem com isso de votar no Trump”, dizia no final do e-mail de sábado. “Foi engraçado por um tempo. Mas o homem é o Hitler... Hitler era só um cara diferentão e hilário, com um penteado ridículo, que dizia absolutamente qualquer coisa”.
O e-mail pode ser um golpe de marketing para seu novo programa, mas esse não é o estilo de Louis C. K. (na verdade, ele é contra publicidade e mais a favor de se estabelecer uma conexão mais legítima com o público).
Em vez disso, o e-mail parece ser um pedido genuíno – um texto de mais de 1.400 palavras implorando aos seus fãs para que não votem no candidato que está na liderança das primárias para o Partido Republicano. Trump é “perigoso”, “doido” e “preconceituoso”, segundo o comediante.
A carta é longa, mas nós selecionamos as melhores partes aqui. Vamos dar uma olhada:
*
Louis C.K. foi rápido em se defender de acusações de partidarismo: Ele não está defendendo nem Hillary Clinton, nem Bernie Sanders, afirmou.
“Eu sou um idiota e tenho certeza que muitos de vocês estão bem irritados com isso”, ele diz no final do e-mail. Segundo ele, sua oposição nada tem a ver com política, mas com o que Trump é. Na verdade, ele comenta que daria boas vindas a um presidente conservador.
“Eu gostaria que o próximo presidente fosse um conservador só porque já tivemos o Obama por oito anos e precisamos de equilíbrio. E não é porque eu goste em particular da agenda política conservadora. Só acho que o governo deva ser um reflexo do povo”, afirmou.
Para ele, numa nação com duas ideologias prósperas e opostas, esse jogo de forças é saudável: “Sempre fez sentido que metade do povo pegasse um presidente que gosta por um tempo e aí odiasse o presidente que vem depois”. Mas o equilíbrio depende de os conservadores oferecerem um “bom” candidato.
“O Trump não é isso. Ele é um doido preconceituoso. Ele é perigoso”, diz Louis C. K.
*
Para o comediante, os ataques de Trump à liberdade de expressão são preocupantes – em particular a promessa do candidato presidencial republicano de fazer com que seja mais fácil processar jornais.
“Eu vou ampliar nossas leis de calúnia e difamação para que, quando alguém escrever de propósito um artigo negativo, horrível e falso, dê para processá-lo e ganhar montes de dinheiro”, disse Trump no mês passado.
“Ele prometeu acabar com a primeira emenda”, disse Louis C. K. em resposta a uma versão não inteiramente precisa dos comentários de Trump.
“Eu digo isso agora porque, se ele conseguir o que ele quer, nós sequer poderemos mais criticá-lo”, diz o comediante.
*
O niilismo pode ajudar a explicar o sucesso de Trump. E Louis C. K. entende isso.
O campo inteiro parece ser de “criminosos oportunistas discretos”, segundo ele. “O jogo todo parece marmelada, e o único caminho agora é ladeira abaixo. É assim que me sinto às vezes”.
Um voto para Trump pode ser um tipo de voto de protesto, diz ele. Mas também é insalubre.
“É a versão nacional de um suicídio. Ou de dar uma bela duma tragada num cachimbo de crack”, diz ele.
*
Os apoiadores de Trump têm uma dívida com os seus compatriotas para que, pelo menos, “saibam e entendam quem ele é”, diz Louis C. K. “Passem uma horinha no Google e leiam tudo que tem para ler”.
Ele sugere que se dê ouvidos ao respeitável Senador John McCain, do Arizona – o mesmo McCain que teve seu passado como prisioneiro de guerra ridicularizado por Trump (“Ele é um herói de guerra porque foi capturado. Eu gosto de pessoas que não foram capturadas”). O mesmo McCain que criticou Trump e acabou recebendo um aviso do líder presidencial republicano para que “tomasse muito cuidado”. Quando o correspondente-chefe da CBS News na Casa Branca, Major Garrett, perguntou o que queria dizer com isso, Trump só acrescentou, misteriosamente: “Ele vai descobrir”.
Por que foi que Trump riu da prisão de McCain? Como explica Louis C. K., é simples:
“Ele disse isso porque é um desses moleques que gostam de bullying. E todo moleque assim sabe que, quando você entra numa nova escola, você tem que ir até o cara mais durão e respeitado do pátio e dar-lhe um murro no nariz”, diz ele. “Se você estiver de pé ainda depois disso, é você quem manda agora”.
*
Para concluir seu longo “P.S.”, Louis C.K. deixou claro que suas preocupações têm pouco a ver com as políticas de Trump e mais com o seu caráter.
“Trump é um cara avacalhado, com um buraco no coração, que ele tenta preencher com dinheiro e atenção”, diz Louis C. K. “Ele nunca vai ter o suficiente de nenhum dos dois e nunca vai parar de tentar. É um doente. E isso é o que faz com que ele seja muito, muito interessante”.
“Deem outro programa de TV para o Trump, deixem que ele continue expandindo o patrimônio em seu nome”, diz Louis C. K. “Mas, por favor, parem de votar nele”.
*
Veja um vídeo de 2011 em que Louis C.K. já fazia piada com Donald Trump:
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura