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Cena do filme "Inverno da Alma" | Divulgação
Cena do filme "Inverno da Alma"| Foto: Divulgação

A norte-americana Jennifer Lawrence é uma atriz que começou cedo a conquistar premiações, inclusive internacionais. Em 2008, com apenas 18 anos, ganhou o troféu Marcello Mastroianni - destinado a jovens atores - no Festival de Veneza, por sua performance em "Vidas que se Cruzam", de Guillermo Arriaga.

Dois anos depois, ela se transforma na melhor aposta feminina de sua geração à frente de outro drama, Inverno da Alma (veja horários das sessões; atenção à data de validade da programação em cinza), da novata Debra Granik, que vem colecionando prêmios desde sua première, no festival de Sundance de 2010, e conquistou quatro indicações ao Oscar deste ano - melhor filme, roteiro adaptado, ator coadjuvante (John Hawkes) e atriz, para Jennifer.

É pena que ela tenha disputado este Oscar contra Natalie Portman, a favorita e vencedora pelo drama Cisne Negro. Mesmo assim, Jennifer não passará despercebida. Ela é a principal, mesmo que não seja a única, razão para grudar os olhos na tela e não perder um minuto do humanista e envolvente Inverno da Alma, que foi montado por Affonso Gonçalves, outro profissional brasileiro que começa a fazer carreira internacional.

Na pele de Ree Dolly, garota de 17 anos responsável por uma família, Jennifer se torna imediatamente objeto de simpatia. Esconde a beleza atrás de um rosto triste e duro, pelo qual passam poucos sorrisos, o corpo magro envolto em roupas largas e puídas, tornando-se um elemento natural da paisagem fria e desolada das montanhas de Ozark, sudoeste do Missouri.

Um sentido ético move esta adolescente - o cuidado dos dois irmãos menores e da mãe, que perdeu a razão há muito tempo. O pai, Jessup, é um ausente e um problema. Envolvido na fabricação caseira de drogas, foi preso e deu a casa da família como garantia do financiamento de sua fiança. Logo depois, mais uma vez, desapareceu.

Agora, o relógio corre e o xerife Baskin (Garret Dillahunt) avisa Ree que a casa da família será tomada, caso ele não se reapresente no dia marcado.

Sobrevivendo de um parco seguro social que não garante nem a comida aos seus, forçando-a a aceitar caridade de vizinhos, Ree se desespera. Não tem outra alternativa, no entanto, que assumir o encargo de caçar o pai, seguindo pistas de sua rotina, na casa de ex-amantes e parentes. Como o irmão dele, Teardrop (John Hawkes), que trata a sobrinha com uma violência que sinaliza o que vem por aí. Os outros parentes são muito piores.

Ao assinalar para sua heroína um calvário calcado de mistérios, subentendidos e a lei do silêncio que vigora num clã criminoso, o filme de Debra Granik cria um suspense sinistro com perigos bem realistas. A atmosfera sufocante de uma região rude e empobrecida, em que uma das poucas opções profissionais para os jovens está no alistamento militar, evidencia a crise econômica que, naquele lugar, é crônica.

Pressionada pela urgência de sua procura, Ree não encontra alívio nem nas instituições, nem nessa família disfuncional em que parece ter se esgotado toda a reserva de decência e fraternidade.

Diante de seus golpes, inclusive físicos, Ree parece renovar sua coragem, nutrindo-se da própria falta de escolhas. Por conta da inegociável legitimidade de sua luta, é impossível não torcer por essa heroína incorruptível e frágil que tem que lidar com um arsenal quase infinito de desvantagens. A essa altura, aconteça o que acontecer, o filme já entrou debaixo da pele e ganhou o coração do público.

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