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Cena do filme "Turnê" | Divulgação
Cena do filme "Turnê"| Foto: Divulgação

Vencedor do prêmio de direção em Cannes 2010, Turnê (veja horários das sessões; atenção à data de validade da programação em cinza), do também ator francês Mathieu Amalric, revela-se o típico filme de ator - significando que a história gira em torno de seus intérpretes, literalmente até, porque trata de seu trabalho. E também porque se coloca a serviço de seu elenco na medida exata para que a cada um de seus integrantes correspondam pequenos momentos luminosos, pequenos solos.

Amalric, que é bem mais conhecido como ator no Brasil - de filmes como O Escafandro e a Borboleta, Conto de Natal e A Questão Humana, tem a seu crédito oito curtas e três longas como diretor. Turnê é o primeiro deles em que assume também o posto de protagonista.

Contando com uma trupe de atrizes norte-americanas, peritas em números do cabaré malicioso que se convencionou chamar de new burlesque, o ator e diretor oferece uma nova encarnação do que seriam personagens tipicamente fellinianas, só que marcadas por um sentido de humor mais melancólico, com um toque cerebral.

Amalric interpreta Joachim Zand, empresário de Mimi Le Meaux (Miranda Colclasure), Kitten on the Keys (Suzanne Ramsey), Dirty Martini (Linda Marracini), Julie Atlas Muz (Julie Ann Muz) e Evie Lovelle (Angela de Lorenzo). A trupe viaja pelo mapa da França apresentando seu cabaré, cada um de seus integrantes sonhando uma utopia diferente. Elas todas, americanas de olho na lenda que é Paris. Ele, um ex-produtor de TV que caiu em desgraça, sonhando em fazer a América em seu próprio país.

A alma da história -- que tem roteiro de Amalric e três outros parceiros (inclusive o brasileiro Marcelo Novais Teles, ator no filme "Tirésia") -- alimenta-se dos pequenos segredos e mentiras dos personagens entre eles mesmos e em relação às pessoas encontradas pela estrada, como a espirituosa atendente de um posto de gasolina (Aurélia Petit). Os artistas lembram às vezes um circo mambembe moderno, com as mesmas questões de instabilidade e solidão.

Sendo ator e diretor experiente, é bem normal que Amalric afirme suas influências - as mais nítidas, Federico Fellini ("Turnê" poderia até ser visto como uma atualização de "Cidade das Mulheres"), John Cassavetes e Jacques Tati (de quem a melancolia que embebe todo o filme parece tão impregnada).

Um momento que lembra "A Menina Santa", de Lucrecia Martel, passa-se no final, ambientado num hotel vazio, com uma piscina seca, em Bordeaux. Uma metáfora, como tantas outras mais, deste filme sobre uma arte sitiada pelas necessidades pragmáticas de sua produção. Mathieu Amalric, com certeza, injetou muito de sua própria vivência e a dos colegas neste trabalho extremamente pessoal, em que nem sempre é fácil manter uma empatia com as personagens. "Turnê" é um filme mais de asperezas do que de maciez.

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