Elton John participou do Viajazz Music Festival, em Madri, no início de julho| Foto: Sergio Perez-Reuters/Gazeta do Povo

O trabalho da imprensa brasileira é alvo da crítica do jornalista Caco Barcellos, da Rede Globo de Televisão, que no início desta semana esteve em Curitiba para um bate-papo com os integrantes do projeto Foca-RPC, que treina jovens jornalistas para trabalho em televisão e jornal impresso. Questionado sobre o trabalho da imprensa brasileira, o jornalista foi direto: "a imprensa é eficiente quando quer ser".

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Como argumento para sua resposta Barcellos lembrou que desde que o avião da TAM caiu em São Paulo, a imprensa nacional tem falado tudo sobre o avião, o aeroporto, a reforma, as circunstâncias que mataram as 199 pessoas em Congonhas e a história pessoal das vítimas. Mas, alguns dias antes, a polícia matou, em um só dia, 19 pessoas no Complexo do Alemão, região do Rio de Janeiro. "Nem os nomes das pessoas foram publicados", comenta o repórter lembrando que a diferença, talvez, seja que os mortos do Rio de Janeiro eram pobres e morreram em uma favela. "A imprensa nem vai nesses lugares. Quando vai, é porque o conflito já estourou", disse ele.

Esse "ranço classista" seria, de acordo com Barcellos, uma das principais características da imprensa brasileira. E o repórter tem o respaldo de seu trabalho para fazer a crítica. Barcellos é autor de três livros: um sobre a revolução sandinista na Nicarágua; outro sobre a violência policial contra os pobres em São Paulo; e o terceiro sobre o traficante que se tornou "dono" de um morro no Rio de Janeiro. Sempre esteve no local para ouvir todos os lados, incluindo traficantes e policiais acusados de execuções.

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Agora, leva sua experiência para um programa televisivo que, segundo ele, ainda está em fase experimental. O "Profissão: Repórter", atualmente um quadro do "Fantástico", da Rede Globo, vai se transformar lentamente em um programa maior. Neste mês, estréia o primeiro especial de 40 minutos. Nele, Barcellos e um grupo de jornalistas novatos fazem reportagem de rua, mostrando todos os lados e todas as classes.

Conforme Barcellos, o "ranço classista é muito forte. A imprensa parece acreditar que existem aqueles que merecem a defesa dos seus interesses de maneira acentuada. E que existem outros que não merecem a mesma atenção. É o caso do avião da TAM e dos mortos no Complexo do Alemão. Em um caso, a imprensa descobriu muita coisa e muito rapidamente. Deu um exemplo de eficiência. No outro, a polícia atirou, matou, executou e não tivemos nenhuma eficiência. Acho curioso como alguns jornalistas gostam de emitir opinião sobre crime e violência sem nunca conhecer essa realidade de perto, sem ir aos lugares. É uma irresponsabilidade", afirmou.

O julgamento de Suzane von Richtoffen (a jovem rica envolvida no assassinato dos próprios pais), é outro exemplo citado pelo jornalista. "No 'Profissão: Repórter', fizemos uma cobertura do julgamento do caso Suzane e em paralelo fizemos um levantamento de outros homicídios que aconteceram na mesma época. Pesquisamos 350 casos. No caso Suzane, a polícia foi capaz de fazer uma pesquisa ampla, produziu 3,8 mil páginas de documentos. Em muitos outros casos, nenhuma testemunha tinha sido ouvida. Achamos um caso de um jovem que havia matado a própria mãe, um crime muito semelhante. O processo tinha 18 páginas. Do lado da imprensa, a cobertura do caso Suzane foi exaustiva. De todos esses 350 outros casos, achei sete linhas em um jornal, o 'Diário de São Paulo". Acho isso revoltante", lembrou.

Caco Barcellos acredita que a imprensa deve se pautar pelo interesse da maioria. "Trabalho no Brasil e a maioria dos brasileiros é pobre. Se eu morasse na Suíça, talvez escrevesse pensando na classe média alta. Tem relação com a consciência do dever social da profissão. Tenho que me pautar pelo interesse da maioria", setenciou o jornalista.

Assinantes podem ler a matéria completa no Caderno G da Gazeta do Povo

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