Michael Jackson se isolou quando seu julgamento chegou ao fim, em junho. Seu jovem acusador voltou ao colégio. Os advogados passaram a trabalhar em outros processos, a imprensa voltou sua atenção a assuntos novos, e os fãs foram para suas casas. Mas os jurados que deixaram o pop star em liberdade parecem não estar conseguindo deixar o caso para trás.
Esta semana, dois membros do júri que julgou o cantor surgiram na mídia para declarar que agora o consideram culpado.
Eleanor Cook e Ray Hultman disseram que foram pressionados pelos outros jurados a votar pela absolvição do cantor. E eles pretendem vender livros, um filme feito para a televisão e, no caso de Cook, camisetas.
- Eles deveriam ter vergonha - disse em entrevista ao MSNBC Eleanor Cook, que tem 79 anos e é avó. - Eles deixaram um pedófilo em liberdade.
Os comentários enfureceram outros membros do júri, que defendem o veredicto e sugerem que Cook e Hultman, 62 anos, estão distorcendo os fatos para melhor vender suas histórias.
- Fiquei arrasada - disse à Reuters a jurada Susan Derr-Drake. - A coisa toda provoca profundas divisões entre nós. Foi muito desanimador. Até o momento do veredicto (...) achei que todos nós tínhamos agido com integridade e feito um bom trabalho. Mas assim que a publicidade entrou no meio, as pessoas mudaram. Se deixaram seduzir pela fama e o dinheiro.
Ela e outra jurada, Susan Rentschler, 52 anos, desmentiram que tenha ocorrido qualquer intimidação durante as deliberações do júri e dizem que, num primeiro momento, Ray Hultman queria condenar Jackson, mas que achou as provas insuficientes.
As duas disseram estar decepcionadas com Cook e Hultman, com quem formaram uma amizade durante os quatro meses do julgamento.
- Telefonei para Ray depois do julgamento e conversei com a mulher dele. Ela não me deixou falar com ele - contou Rentschler. - Eles deveriam ter vergonha do que estão fazendo. Estão sujando o nome dos jurados. Não estão beneficiando o sistema legal quando dizem coisas que são totalmente falsas.
Os telefonemas feitos a Cook e Hultman com o intuito de fechar acordos para o cinema foram encaminhados a Larry Garrison, um produtor de Hollywood que comprou os direitos sobre as histórias deles e impôs à dupla blecaute de mídia.
- Tenho o mundo inteiro convergindo sobre mim neste momento, querendo entrevistá-los - disse Garrison. - Tenho uma grande rede de TV com a qual estou em negociações. Tenho quatro grandes editoras interessadas nos livros. Dentro de um ou dois dias esperamos que os dois contratos já tenham sido fechados.
Ele disse que o livro de memórias de Eleanor Cook terá como título "Guilty as Sin, Free as a Bird" (Totalmente culpado, mas livre como um pássaro), e o de Hultman, "The Deliberator" (O deliberador).
- O que está em jogo aqui não é dinheiro - disse Garrison. - O sistema judicial é que deu errado. A questão diz respeito a dois jurados sendo pressionados, ouvindo que seriam expulsos do júri. Elly Cook tem 79 anos. Ela não está dando a mínima para o dinheiro neste momento de sua vida. Ela vai doar o dinheiro para alimentar crianças.
Garrison disse que Cook está vendendo camisetas com a frase "Don't Snap Your Fingers at Me, Lady - Elly Cook, Juror Number 5" (Não aponte os dedos para mim, dona - Elly Cook, jurada número 5) - a resposta que deu quando indagada por jornalistas sobre como reagiu à mãe do acusador de Michael Jackson.
Especialistas legais disseram que a divergência atual entre os jurados e as tentativas de Cook e Hultman de lucrar podem prejudicar a percepção que o público tem do sistema de Justiça.
- É realmente reprovável - disse o ex-promotor do condado de Santa Bárbara Craig Smith. - Se eles realmente acreditavam que Jackson fosse culpado, deveriam ter se mantido firmes em suas posições.
Referindo-se aos contratos de livros e filmes, Smith comentou:
- Isso reflete mal sobre o sistema de justiça porque o papel dos jurados não é auferir lucros. Se um jurado tem um interesse financeiro num caso, então isso realmente coloca em dúvida suas motivações. Este caso um exemplo perfeito disso.
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