Um herói brasileiro
Além de designar um tipo de madeira, a palavra quarup (ou kuarup) dá nome a um importante ritual de homenagem aos mortos ilustres, celebrado pelos povos indígenas da região do Xingu. Seja por sua linhagem ou poder de liderança, o homenageado é colocado no mesmo nível dos ancestrais da tribo.
A experiência de registrar a enxurrada no Nordeste teve data de início, mas está longe de chegar ao fim. No dia 25 de junho, eu e o fotógrafo Jonathan Campos deixamos Curitiba rumo a Alagoas e Pernambuco para fazer a cobertura jornalística do temporal que castigou a região, para a Gazeta do Povo. No total, 95 municípios foram afetados e 57 mortes confirmadas nos dois estados. Em algumas cidades, o rio encobriu casas por completo e, quando o nível da água baixou, ficaram apenas ruínas. Comunidades inteiras foram destruídas, prédios públicos caíram e pontes não existem mais.
Nossa viagem foi de muito aprendizado e reflexão. Ouvimos novas histórias (num sotaque muito peculiar), vimos várias situações tristes, recebemos muitos "Vão com Deus" e fomos muitas vezes questionados se estávamos fazendo cadastros para o recebimento de donativos. No meio de tanta destruição, o trabalho rendeu. Jonathan Campos fez cerca de 500 fotos por dia, parte delas reunida na exposição Vítimas da Enxurrada no Nordeste, em cartaz a partir de hoje, no Estação Business School.
Antes de nossa viagem por oito municípios chegar ao fim, ele já tinha uma ideia fixa: fazer uma exposição das fotos. Os objetivos eram mostrar a destruição e tentar transmitir um pouco da emoção presente naquele local. Os moradores tinham muitas situações tristes para contar, ao mesmo tempo que sorriam em agradecimento às doações recebidas. Grande era a fé daquele povo.
O ensaio fotográfico pensado durante a cobertura vira realidade a partir de hoje. A exposição Vítimas da Enxurrada no Nordeste ficará em cartaz por um mês, mostrando fotos que captam a alegria de uma criança ao receber uma garrafa dágua, o desespero de mulheres na busca por uma marmita, a tristeza da senhora de 98 anos que não tem mais casa para morar, entre outras cenas que promovem a reflexão.
Jonathan e eu não ficamos imunes a isso. Quando parávamos um pouco a cobertura, fosse para almoçar num restaurante à beira da estrada ou esperar pelo embarque no helicóptero da Marinha, começavam os questionamentos. Jonathan pensou como seria se ele estivesse naquela situação, com seus filhos. Imagine-se perdendo o pouco que tem de uma hora para outra, assim como seus amigos e parentes. Você não tem economias e a única opção é ir para um abrigo, onde vivem 500 pessoas. Um lugar quente, sem água, com animais, em que lençóis delimitam o espaço a ser ocupado por cada um.
Deixamos o Nordeste no dia 1.º de julho e as reflexões continuam. Também permanecem vivas as imagens da tragédia, magistralmente registradas pela lente de Jonathan.
* Bruna Maestri Walter é repórter da editoria Vida e Cidadania há quatro anos e participou da cobertura da tragédia provocada pelas chuvas em Santa Cantarina, em 2008. Jonathan Campos é fotógrafo profissional há 12 anos, trabalha há 9 na Gazeta do Povo e participou de coberturas como a das Olimpíadas de Pequim e a Expedição Caminhos do Campo, nos Estados Unidos
Serviço:
Exposição Vítimas da Enxurrada no Nordeste, de Jonathan Campos. Estação Business School Shopping Estação (Av. Sete de Setembro, 2.775 5º andar), (41) 2101-8800. Abertura hoje, às 19 horas. Visitação de segunda a sexta-feira, das 9 às 21 horas e sábados, das 9 às 12 horas. Até 21 de agosto.
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