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Partindo do anonimato da morte proposto por Mary Roach, a dissecação do tema pode se tornar realmente fascinante. Mas é preciso abrir a cabeça (perdão). Afinal, conforme a autora conta, mesmo os profissionais que trabalham com cadáveres se apoiam em algum tipo de mecanismo para tornar normais circunstâncias que seriam normalmente perturbadoras.

Uma delas é a “coisificação”, comumente usada nos laboratórios de ensino de anatomia, por exemplo. “Para as pessoas que lidam habitualmente com cadáveres, é mais fácil (e supostamente mais exato) pensar neles como (...) estruturas e tecidos e não como algo que já foi um ser humano”, escreve. “A dissecção e o aprendizado cirúrgico, assim como o hábito de comer carne, exigem um apurado conjunto de ilusões e negações.”

Este mecanismo é necessário para aceitarmos nossa própria materialidade – elementar, suscetível à putrefação. O livro nos lembra de forma bastante contundente que somos biologia, e é importante, inclusive, pensar em que fim deveríamos dar ao que deixamos para trás (há um capítulo longamente dedicado a apresentar opções como a “compostagem humana”, que apresenta direções interessantes, embora o livro original date de 2003). Que é possível prolongar a vida de outras pessoas no caso de termos morte cerebral e nossas famílias autorizarem a doação de nossos órgãos. E que nossos corpos podem ser realmente úteis para ajudar a ciência, embora não seja confortável imaginar certos experimentos que poderão ser feitos com eles.

A gente derrete

Mas seria menos aceitável doar o corpo para que cientistas o reduza a pedacinhos do que simplesmente deixar o curso natural da decomposição acontecer?

Uma parte de “Curiosidade Mórbida” se debruça sobre este processo, cujas etapas são estudadas para que a polícia científica, por exemplo, tenha condições de determinar com cada vez mais exatidão quando e como uma pessoa morreu. Em certo ponto, ela compara, derretemos feito a Bruxa Má do Oeste em “O Mágico de Oz”.

É estranho, mas é bem interessante ler estes detalhes – e é neste momento que o título em português do livro faz mais sentido que o original (algo como “Rígido: as vidas curiosas dos cadáveres humanos”). Por que alguém procuraria escrever, ou ler, sobre uma coisa assim? Mary justifica: é curiosa também por territórios desconhecidos E se a leitura às vezes é desconcertante, um bocado repugnante, todos nós compartilhamos de pelo menos um pouco deste tipo de curiosidade. Não?

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